quarta-feira, 1 de junho de 2016

Bico calado

Mirtilos, em Couto de Esteves.
  • «(…) não foi seguramente por causa das 39 escolas que não vão abrir novas turmas contratadas e as 19 que vão passar a ter menos contratos que a Associação dos Estabelecimentos do Ensino Particular e Cooperativo se envolveu com tanto empenho em tudo isto. Os colégios com contratos de associação representam 3% do sector privado. Também não foi por causa de 27 escolas com contratos de associação ligadas à Igreja que o Episcopado se envolveu como poucas vezes num confronto político. O que está em causa é a transferência das funções sociais do Estado para empresas privadas e para instituições religiosas. Na educação, na saúde e na segurança social. (…) Esta campanha cheira a agência de comunicação por todos os poros. E onde há agência de comunicação há dinheiro a sério. Dinheiro que nem as 79 escolas envolvidas têm. Temos dois sectores especialmente empenhados neste combate: o privado e a Igreja. O sector privado sabe que não há em Portugal uma elite económica suficientemente numerosa para garantir a massa crítica necessária a rentabilidade do negócio. A qualidade que têm para oferecer também não é suficiente para que, ao contrário do que acontece noutros países, as pessoas arrisquem o endividamento para pagar os estudos dos filhos. Cheira-lhes, e cheiras-lhes bem, que o retorno não virá. Basta recordar o estudo da Universidade do Porto, que mostrou que se os colégios preparam melhor do que as escolas públicas para os exames (que lhes dão boas classificações nos rankings), preparam pior para a Universidade, onde os seus alunos irão ter, em média, piores resultados do que quem vem do ensino público. É isto e a comparação entre os resultados de colégios que podem e que não podem selecionar os alunos que me tem levado a repetir que a única vantagem que os colégios têm para oferecer é a seleção (social, disciplinar e de qualidade de alunos). (…) O combate para que estes pais estão a ser usados é pela conquista de um mercado privado de serviços públicos pagos pelo Estado: na educação, na saúde e até nos apoio à pobreza. Um recuo no caminho já feito é demasiado perigoso. (…)» Daniel Oliveira in A marca amarela – Expresso 30mai2016.
  • Ex-governante Manuel Castro Almeida agora gestor e sócio de Marques Mendes: administra fundos de programa que dirigiu. Sábado.
  • «A coisa não é complicada: ou aceitamos que o Estado pode apoiar atividades religiosas e somos pluralistas nesse apoio ou defendemos a laicidade sem concessões. E aí, acabou-se a Concordata com o Vaticano, os benefícios fiscais para a Igreja, a religião e moral nas escolas públicas, o apoio à construção ou preservação de qualquer templo com dinheiros públicos e a presença de figuras do Estado em atos religiosos e vice-versa. Contaremos com os militantes contra a mesquita para tão difícil agenda? É que, num país onde o Estado despeja rios de dinheiro em atividades e na construção templos da Igreja Católica e esta não paga IMI pelo seu vasto património não é fácil levar a sério quem só se lembra da laicidade do Estado quando o apoio é dirigido a determinada religião.» Daniel Oliveira in Laico? Só na mesquita - FB.

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