Vamos manter a urina livre de glifosato
Já são conhecidos os resultados dos testes a resíduos de glifosato na urina de 48 eurodeputados de 13 países - Alemanha, Bélgica, Croácia, Espanha, Finlândia, França, Holanda, Hungria, Irlanda, Itália, Lituânia, Reino Unido, República Checa. Independentemente da idade, do sexo, da dieta e do estilo de vida, a urina de 48 eurodeputados revelou, em média, 1,3 microgramas/litro de glifosato, 17 vezes a norma estabelecida para a água de consumo humano na Europa.
A iniciativa ocorreu após a Organização Mundial de Saúde ter divulgado, em março de 2015, a conclusão de várias investigações de que o glifosato era potencialmente cancerígeno para os humanos. Para tal, seguiu o modelo do estudo Urinale 2015, realizado no inverno de 2015-16, na Alemanha, pela Heinrich Böll Foundation. Os resultados das análises à urina de 2 mil participantes revelou concentrações de glifosato entre 5 e 42 vezes superiores aos limites dos valores de resíduos estabelecidos para a água de consumo humano na Europa.
Processo complicado
«Uma vez que a licença concedida em 2002 pela União Europeia em relação ao glifosato termina em junho de 2016, era preciso reavaliar o herbicida para decidir sobre a atribuição ou não de nova licença. Para tal, 23 empresas, organizadas na Glyphosate Task Force, apresentaram, em 2012, o pedido. Um relator fez uma avaliação de risco provisória, preenchida pela BfR, a autoridade alemã para a avaliação de risco (Bundesinstitut für Risikobewertung). Posteriormente, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (ECPA), após nova análise comparativa, publicou as conclusões em novembro de 2015: era improvável que o glifosato representasse um perigo cancerígeno para o ser humano.»
«Em 13 de abril de 2016, o Parlamento Europeu acabaria por conceder ao glifosato uma licença de 7 anos, em vez dos 15 anos pretendidos pela Comissão. Para além desta licença não ser vinculativa, ela apenas conseguiu proibir a aplicação do glifosato dentro ou perto de recreios, parques e jardins públicos, ficando muito aquém das conclusões da Organização Mundial de Saúde e das exigências de mais de um milhão de europeus. Não foi, por isso, de estranhar que uma série de organizações ambientalistas tenham avançado com um processo judicial contra os responsáveis pela avaliação feita ao glifosato na Europa – Monsanto, o BfR e a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA).
Perante este cenário, será altamente irresponsável querer, em 18-19 de maio prolongar a autorização do glifosato por mais 9 anos, aliás à revelia da oposição, no Parlamento Europeu, por parte da França, da Suécia, de Itália e da Holanda e menosprezando uma petição subscrita por 1,4 milhão de europeus.»
Corrupção à vista
«A ECPA funcionou, na prática como um poderoso lóbi em Bruxelas a favor da Monsanto, da Dow Chemicals, da da Dupont, Syngenta, da Bayer CropSciences, da BASF Agro e outras. Quando se soube que 4 países, - a França, a Holanda, a Itália e a Suécia -, estavam contra a renovação da licença para o glifosato, Jean-Charles Bocquet, diretor da ECPS disse: “Estamos muito preocupados por haver países que se deixaram influenciar pela pressão política do Parlamento Europeu, por ONGs e pelo princípio da precaução".
O princípio da precaução considera que mesmo que haja um risco suspeito de causar danos ao público ou ao ambiente, então, perante a ausência de consenso científico de que a ação ou a política não é prejudicial, o ônus da prova de que não é prejudicial deve recair sobre aqueles que tomam uma ação, neste caso, a Monsanto e o lóbi dos agroquímicos. Ainda é lei na UE. A ECPA admite, ao que parece, que a precaução em relação à saúde ou à segurança humana não tem qualquer valor.
Em novembro de 2015, a Autoridade Europeia de Segurança Alimentar (EFSA) acabaria por determinar que era improvável que o glifosato representasse um perigo cancerígeno para o ser humano. Tudo à revelia da Organização Mundial de Saúde, tudo ao sabor da vontade de 6 estudos patrocinados pela indústria agroquímica cujos pormenores nunca chegaram a ser tornados públicos na íntegra em revistas cientificamente independentes e sujeitas ao “peer review”.
A determinação da EFSA baseou-se num “estudo” encomendado pelo governo alemão que, viria a saber-se, não passava de uma adaptação de outro “estudo” feito pela indústria agroquímica a pedido da Glyphosate Task Force. A avaliação de risco realizada em 2014 pelo Federal Institute for Risk Assessment (Bfr) para a EFSA não só omitia dois estudos chave de toxicidade crónica em que se baseava a sua decisão porque, garantiam eles, esses estudos continham informação comercialmente confidencial, como também recomendavam a renovação da licença de uso do glifosato e o aumento em 66% da exposição diária permitida ou ingestão.
Para compor todo este quadro de corrupção, convém saber que o Bfr alemão tinha técnicos das grandes fabricantes de pesticidas com interesses no glifosato, nomeadamente dois da BASF e um da Bayer.
A determinação da EFSA era tão má que levou 96 cientistas a publicar, em 27 de novembro de 2015, uma carta de protesto dirigida a Vytenis Andriukaitis, comissário europeu de Saúde e Política de Consumidores apelando à nulidade da determinação uma vez que a investigação não era credível por não estar baseada em provas. A resposta de Andriukaitis foi lapidary: “Não sou capaz de satisfazer o seu pedido para simplesmente ignorar a conclusão da AESA.”
William Engdahl conclui: «Andriukaitis mentiu. Poderia ter citado as provas de 96 cientistas para exigir uma avaliação independente do glifosato. Mais um burocrata europeu que toma decisões fundamentais para a vida humana e não se sente responsável democraticamente. Cenas destas eram frequentes na democracia sem rosto da União Soviética durante a era de Estaline. Nascido durante o estalinismo, Andriukaitis deveria saber. Durante os anos 1940s toda a sua família foi deportada para um campo de trabalhos forçados na Sibéria onde ele nasceu em 1951 e lá viveu até aos 7 anos.»
Glifosato é veneno, alternativas são saúde
«Originalmente inventado para amolecer a água para limpar tubos, o glifosato começou a ser usado para bloquear a síntese da enzima na célula da planta e assim provocar a sua fome e posterior morte. Este princípio foi confirmado em todas as células que precisam daquela enzima para crescerem. Uma enorme população de bactérias e fungos vivem não só na nossa pele como no interior do nosso organismo. São essenciais para a saúde, por exemplo facilitando a digestão ou impedindo infeções. Por isso, o efeito antibacteriano do glifosato justifica o medo de ingestão desta toxina por ser mau para a saúde humana. Para além disso, a molécula de glifosato agarra-se fortemente a certos minerais como o magnésio, o cálcio, o zinco, o cobalto, o manganês e o ferro. Isto facilita a ligação do glifosato aos minerais de argila do solo - e faz o mesmo no corpo humano, tornando estes elementos indisponíveis ao sistema imunitário e perturbando assim a capacidade do corpo para manter uma condição de equilíbrio dentro do seu ambiente interno, mesmo quando confrontados com mudanças externas.
O uso do glifosato não pára de aumentar em todo o mundo. Aumentou 15 vezes desde 1996, especialmente devido à sua ligação com culturas transgénicas tolerantes ao glifosato.
O glifosato é, neste momento, a incarnação da agricultura moderna. Mas este sistema não é sustentável, porque (1) representa a monocultura e a morte da biodiversidade; (2) está intimamente ligado aos transgénicos; (3) só vê dinheiro e lucro e (4) destrói as práticas agrícolas tradicionais.
Por isso, há que alterar os atuais padrões da agricultura e práticas agrícolas. Por exemplo, generalizar a compostagem, fazer a rotação das culturas, aprender a jogar com as chamadas “ervas daninhas”. Se não fizermos isto, acabaremos por ter muito mais resíduos de glifosato na nossa urina.»
Via Greens/EFA, EcoWatch, New Eastern Outlook e East to Nothwest.
Via Greens/EFA, EcoWatch, New Eastern Outlook e East to Nothwest.
ÚLTIMA HORA - Dois dias antes da votação, a Organização Mundial de Saúde veio dar o dito por não dito: o glifosato provavelmente NÃO representa risco de cancro para os humanos «da exposição através da dieta».
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