segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Bico calado

  • José Azevedo Pereira, diretor geral dos impostos entre 2007 e 2014, sobre os contribuintes de alto rendimento: em Portugal, duzentas e tal famílias «especiais» só pagam 0,5% de IRS ao Estado, quando deveriam ser mil ou mais a pagar entre 20-25%, como em outros países.
  • «A nova administração da TAP prepara-se para vir ao Porto contar a história da Carochinha aos autarcas. Na mão, leva um papel segundo o qual os voos para Barcelona, Milão, Roma e Bruxelas dão um prejuízo anual de oito milhões de euros. E, num prodigioso exercício de fantasia, a administração da TAP reconhece que essa perda aconteceu apesar de as ligações terem taxas de ocupação entre os 78 e os 85%. (…) Era por isso bom que essa visão fosse assumida de uma vez por todas e não nos viessem com contas suspeitas como a dos prejuízos dos voos que vão ser suspensos numa altura em que se vai começar a viajar do Porto para Varsóvia por menos de 40 euros. Era bom que nos explicassem por que razão os voos para Barcelona ou Milão ou Bruxelas com partida em Lisboa dão lucro e os do Porto são prejuízo. Têm taxas de ocupação superiores a 85%? Mesmo assim não chegaria, porque no caso do Porto, diz a business intelligence da TAP, teria de chegar aos 116%. Têm preços mais caros? Não podem, porque assim perderiam lugares para a concorrência. Têm custos operacionais mais baixos? Mas como, se afinal não se cansam de nos dizer que o aeroporto da Portela está com problemas de sobreocupação? (…) Mais, a TAP não só quer colocar o Porto à margem da sua estratégia como desenhou até um plano para lhe disputar uma faixa significativa do seu mercado natural, o da Galiza, criando um voo diário entre Vigo e Lisboa. (…)» Manuel Carvalho in A Carochinha a voar na TAP – Público 14fev2016, via O voo do corvo.
  • «(…) Na qualidade de mecenas, gostaria ainda que, sempre que ajudo a resgatar um banco, me passassem factura. Creio que é o mínimo que podem fazer. Não sei que parte me cabe nos cinco mil milhões de euros usados para salvar o BES, mas tenho a certeza de que se trata de uma despesa que poderei descontar no IRS, juntamente com a conta da farmácia.(…)» Ricardo Araújo Pereira in Com factura, se faz favorVisão 11fev2016.
  • «O dr. Pedro Passos Coelho declarou, à puridade, ser social-democrata, ideologia que nunca praticou nos quatro anos e tal em que governou o país. Temo, aliás, que, dos fundadores do PSD, apenas dois, Francisco Pinto Balsemão e Magalhães Mota, possuíam noções do que era, ou seria, a social-democracia. Nem mesmo Francisco Sá Carneiro, porque demasiado autoritário, seria social-democrata genuíno. Quando muito, demoliberal. (…) O PSD foi estruturado numa mistura insólita de proveniências. Nele se acolheram republicanos sossegados, fascistas à procura de telhado, dissidentes do salazarismo à espreita de melhor futuro e desempregados da política. Esta "mixurucada" era uma confusão de tal ordem que o próprio Sá Carneiro com ela não se entendia. E disse-o a quem o quis ouvir. Afastou-se, foi a Londres, adoeceu ou não, e, depois, impôs o seu estilo e ânimo a um partido que, rigorosamente, não existia. O partido era Sá Carneiro, tal como ele concebia a sociedade e o mando. De social-democracia, nem o cheiro. Aliás, não é de estranhar: poucos sabiam o que a definição queria dizer. E nunca mais nenhum curou de saber. Os discursos e as notas políticas de Sá, reunidos em volumes, nada adiantam, e, pior, não esclarecem o seu pensamentoBaptista Bastos in Estamos todos em perigoJNegócios 12fev2016.

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