domingo, 13 de dezembro de 2015

Reflexão – Cimeira Climática de Paris: uma fraude prenhe de promessas e vazia de ação


A equipa de relações públicas da Cimeira do Clima de Paris pode bater palmas e apregoar o sucesso obtido, mas diz quem sabe, os cientistas, que o acordo é inconsistente. Os Ecologistas en Acción consideram-no dececionante e insuficiente: a justiça climática, a descarbonização, os direitos humanos, os refugiados climáticos são, entre outros, pontos que fragilizaram um texto final que é perigosamente vago na medida em que os compromissos para a redução das emissões de gases de efeito de estufa não são vinculativos.
Ao contrário do anterior acordo que sugeria reduções segundo percentagens e um calendário, o atual promete limitar o aumento da temperatura global a um valor bem abaixo dos 2ºC, mas não mapeia a sua concretização. O texto diz que os países devem atingir o pico das emissões de gases com efeito de estufa o mais cedo possível e fazer reduções rápidas para atingir a neutralidade das emissões na segunda metade do século. Os cientistas defendem a inclusão de metas calendarizadas para a redução das emissões e que devem ser feitos cortes na libertação do CO2 em vez de se investir na sua absorção ou armazenamento.
Dois graus na subida das temperaturas significará o fim da habitabilidade para enormes zonas da terra, onde haverá mais secas, mais inundações, mais tempestades e mais impactos sobre a segurança alimentar. A subida do nível das águas do mar fará desaparecer enormes zonas terrestres. A combinação de fenómenos como a acidificação dos oceanos, a morte de corais e o derretimento do Ártico potenciará o colapso de cadeias alimentares. Entretanto, as florestas tropicais reduzir-se-ão, os rios esgotar-se-ão, os desertos avançarão, tudo isto fazendo com que a extinção em massa possa vir a ser a imagem de marca da nossa era. Parece ser este o sucesso aplaudido e apregoado pelos delegados à Cimeira do Clima de Paris.
Recorde-se que, na cimeira climática de Berlim, em 1995, o objetivo de 1,5ºC era considerado possível de se ser atingido. Agora, 20 anos depois de muito lóbi por parte da indústria dos combustíveis fósseis, 1,5ºC é um objetivo ambicioso, quiçá inexequível. Isabel García Tejerina, ministra da Agricultura, Alimentación y Medio Ambiente de Espanha, considera-o “tremendamente ambicioso.
Os delegados à cimeira podem muito bem ter prometido reduzir a procura de combustíveis fósseis, mas, nos seus países, vão continuar a pugnar por aumentar a sua oferta. O próprio governo de David Cameron acabou de garantir que vai maximizar a recuperação económica do gás e do petróleo britânico.
Entretanto, James Hansen, pai da consciência das alterações climáticas, considera esta cimeira uma fraude total. O ex-cientista da NASA critica a cimeira por ser prenhe de promessas e vazia de ação. Depois de saber que o seu relatório sobre o aquecimento global e as alterações climáticas e das sugestões que apresentara para a redução das emissões de gases de efeito de estufa terem sido manipuladas pelo governo norte-americano, Hansen abandonou a NASA e tornou-se ativista climático, tendo sido várias vezes detido em protestos defronte da Casa Branca contra a fraturação hidráulica para a extração de gás de xisto e contra o prolongamento do oleoduto Keystone.

1 comentário:

OLima disse...

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