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Sete razões para o PS não apoiar Maria de Belém
(Nicolau Santos, in Expresso Diário, 21/08/2015)
«Pessoalmente, Maria de Belém é uma pessoa encantadora, de uma enorme gentileza e que exerceu sem rasgo mas com competência as funções públicas que lhe têm sido confiadas. Mas a sua decisão de avançar com uma candidatura à Presidência da República tem obviamente de ser apreciada politicamente. E há sete razões para o PS não a apoiar.
1) Esta candidatura não nasce por convicção mas por reação – reação ao possível apoio do PS a Sampaio da Nóvoa, que alguns notáveis do PS não apadrinham nem aceitam. Não é um bom motivo para avançar. Até agora nunca Maria de Belém tinha dito uma palavra ou passado uma mensagem que permitisse adivinhar que o seu grande desígnio era um dia ocupar o Palácio de Belém.
2) Esta candidatura nasce contra a atual direção do PS. Maria de Belém era presidente do partido por indicação de António José Seguro. Esteve discretamente com ele quando António Costa desafiou a sua liderança e o afastou do cargo de secretário-geral do PS. Ficou seguramente magoada quando Costa a substituiu por Carlos César. Agora serve a sua vingança. Fria, como é da norma para doer mais.
3) É verdade que Maria de Belém, durante uma ação de campanha (a entrega das listas de deputados do PS às próximas eleições legislativas), aproveitou para anunciar a Costa que se ia candidatar a Belém, como se essa fosse uma questão de somenos que se resolvesse com uma conversinha num canto de um corredor de um tribunal. Mas fazer depois o anúncio público quando António Costa estava num direto da SIC, esvaziando a mensagem que ele pretendia passar e obrigando-o a voltar ao tema das presidenciais quando ele tem insistido que o importante neste momento são as legislativas foi no mínimo, para ser simpático, uma enorme deselegância. Para ser antipático, foi uma facada nas costas.
4) A forma como todo o processo está a ser conduzido por Maria de Belém desvia as atenções do essencial – as legislativas – e lança ainda mais confusão, se preciso fosse, no campo socialista, já a braços com uma campanha que tem sido bastante acidentada. Numa análise pura e dura, quanto pior for o resultado do PS nas legislativas, melhor será para a candidata na sua corrida a Belém, já que os portugueses têm por norma não colocar todos os ovos no mesmo cesto. Ora objetivamente com esta sua decisão, da forma e no tempo que a anunciou, Maria de Belém está a prejudicar os resultados eleitorais do PS nas legislativas. Sendo militante do PS, é imperdoável o que fez.
Maria de Belém no fundo está a apostar (mesmo que não deliberadamente, mesmo que não conscientemente) na derrota dos socialistas nas legislativas e na substituição de António Costa
5) Maria de Belém apresenta-se apoiada por Manuel Alegre (seguramente porque Alegre é um cavalheiro e está agora a pagar o favor que Maria de Belém lhe fez quando foi a sua mandatária nacional em 2011 na altura em que o histórico socialista se candidatou à Presidência da República), por Vera Jardim (que é seu amigo de longa data), por Nuno Júdice (um enorme poeta, que muito admito) e por Eurico Brilhante Dias (um dos braços direitos de Seguro). São pessoas que muito aprecio e que conheço pessoalmente. Depois, tem ainda os apoios de uma diretora da Associação Nacional de Farmácias, do presidente da Amorim Turismo, de outra administradora agora do grupo Altis, de um gestor do BES Numismática e de um gestor do Instituto Português de Estudos Maçónicos. Para já, claro. Outros apoios aparecerão. Em contrapartida, houve dois notáveis militantes do PS, ex-Presidentes da República, um dos quais por acaso é seu fundador, que apoiam outra candidatura (Mário Soares e Jorge Sampaio) e outro ex-presidente da República (Ramalho Eanes) que também apoia a outra candidatura que visa ganhar o apoio socialista e que já está no terreno há algum tempo. As pessoas valem todas a mesma coisa. Mas há uns que têm mais peso politico perante os eleitores do que outros. Ou seja, há claramente uma diferença substancial do peso dos apoios entre Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa. E não é a favor da candidata.
6) Por mais voltas que dê, Maria de Belém veio objetivamente dividir o campo socialista nesta matéria, tanto mais que se conhecem há muito uma série de sinais de que o líder do PS iria apoiar Sampaio da Nóvoa. Que outra pessoa do campo socialista mas não militante do PS apresente a sua candidatura aceita-se sem reservas. Que isso seja feito por alguém que participa nas reuniões na sede do partido no Rato já é menos compreensível – e não é seguramente inocente. Quem desafia a linha oficiosa do partido não merece seguramente ser apoiada por ele, pelo menos enquanto for António Costa o secretário-geral do PS.
7) Finalmente, o atual PS não pode apoiar Maria de Belém porque, no fundo, ela está a apostar (mesmo que não deliberadamente, mesmo que não conscientemente) na derrota dos socialistas nas legislativas e na substituição de António Costa – pela única e simples razão de saber que, com Costa, não terá nem, cargos, nem prebendas, nem sinecuras nos próximos anos se este chegar a primeiro-ministro. O regresso de Seguro é o seu seguro de vida política futura. Maria de Belém está a trabalhar para isso.»
O hábito que reage
(Daniel Oliveira, in Expresso, 22ago2015)
«A forte presença de pessoas ligadas a grupos de interesses privados habituados a viver paredes-meias com o poder político é sintomática. Assim como é sintomática a relação que a candidata teve com estes interesses enquanto era deputada, mantendo avenças eticamente inconciliáveis com as suas funções. Não digo que estas pessoas esperem que um futuro presidente lhes dê o que não pode dar. Digo que estão, tal como os pequenos poderes partidários, habituados a uma determinada forma de fazer política. A reação epidérmica a um candidato externo ao partido e a escolha de quem tem como única vantagem competitiva a sua ligação umbilical ao aparelho são manifestações desse hábito.»
As forças ocultas do PS
(Baptista Bastos, in Jornal de Negócios, 14ago2015)
«A apresentação de Maria de Belém como putativa candidata à Presidência da República, apoiada pelo PS, abre uma cisão naquele partido, semelhante àquela que opôs Manuel Alegre a Mário Soares, e empurrou o dr. Cavaco para as mais altas funções do Estado. Com os resultados dramaticamente conhecidos. A ambiguidade do comportamento socialista só se explica pela correlação de forças naquele partido, e pela cedência de António Costa à ala mais conservadora, que parece ser dominante em força e em poder.
Há qualquer coisa de suicidário nas ocorrências registadas no PS nas duas últimas semanas. A negligência nos cartazes, além das frases, ocas e compridas, com módico impacto público; e, agora, esta designação embrulhada, sem elegância nem grandeza, que impugna, afinal, a candidatura de Sampaio da Nóvoa. O PS, assim, demonstra uma indecisão ou uma dicotomia larvar, oposta e, até, antagónica da coesão exigida a uma organização daquela natureza. E não me venham com a conversa de o PS ser um partido “plural”, que mantém opiniões diversas.
Sampaio da Nóvoa congregou, em torno da sua candidatura, três ex-Presidentes da República, além de alguns dos nomes mais prestigiosos e respeitados da sociedade actual. O que incomodou alguns “socialistas” com ouvidos meigos foi a clareza meridiana com que o antigo reitor disse ao que vinha, e que colide, fortemente, com a mansuetude calculada da vida portuguesa.»
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