sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

Reflexão

Porque é que a ascensão do fascismo é outra vez o problema, por John Pilger.

Pontos a reter:

1 Se os nazis não tivessem invadido a Europa, Auschwitz e o Holocausto não teriam acontecido. Se os Estados Unidos e os seus satélites não tivessem começado a guerra de agressão ao Iraque em 2003, cerca de um milhão de pessoas estariam hoje vivas e Estado Islâmico, ou ISIS, não nos teria feito reféns da sua selvajaria. 

2 Tal como o fascismo dos anos 30 e 40, as grandes mentiras são divulgadas com a precisão de um metrónomo: graças aos onipresentes e repetitivos media e à sua censura venenosa por omissão. Tomemos por exemplo a catástrofe na Líbia. Em 2011, a NATO lançou 9.700 ataques contra a Líbia, mais de um terço dos quais contra alvos civis. Foram utilizadas ogivas nucleares (...) A Cruz Vermelha identificou valas comuns, e a Unicef informou que a maioria das crianças mortas tinham menos de dez anos. A sodomização pública do presidente da Líbia, Muammar Gaddafi, foi recebida pela secretária de Estado de então, Hillary Clinton, com as palavras: «Nós viemos, nós vimos, ele morreu.» O seu assassinato, tal como a destruição do seu país, foi justificado com uma grande mentira: ele estava a preparar um genocídio contra o seu próprio povo. Para Obama, Cameron e Hollande, o verdadeiro crime de Gaddafi era a independência económica da Líbia e a sua intenção de acabar com a venda das reservas de petróleo africano em dólares americanos. O petrodólar é um pilar do poder imperial americano. Gaddafi planeava criar uma moeda comum africana apoiada no ouro, estabelecer um banco pan-africano e promover a união económica entre países pobres com recursos valiosos. Depois do ataque da Nato, Obama confiscou 30 biliões de dólares do banco central da Líbia destinados por Gaddafi para estabelecer um banco central africano.

3 Em 1999, Bill Clinton e Tony Blair enviaram a Nato para bombardear a Sérvia porque, mentiram eles, os sérvios estavam a cometer um genocídio contra as minorias étnicas albanesas no Kosovo, tendo, segundo essa mentira, sido exterminados 225 mil albaneses. Depois dos bombardeamentos da Nato, com todas as infraestruturas sérvias destruídas, equipas judiciais desceram à cena para recolher provas do alegado holocausto. Passado um ano, o tribunal das Nações Unidas anunciou o registo de 2788 mortos no Kosovo, rejeitando o conceito de genocídio. O holocausto fora uma mentira. O ataque da Nato fora uma fraude. Atrás da mentira, houve um objetivo a cumprir. A Jugoslávia era um país independente, multi-étnico, que fora uma ponte económica e política durante a Guerra Fria. A maior parte dos seus serviços e empresas eram públicas e isto não era aceitável para a Comunidade Europeia, em especial para a recém unificada Alemanha, que começava a reconquistar mercados na Croácia e na Eslovénia. Já em 1991, à margem da cimeira de Maastricht, um acordo secreto previa o reconhecimento da Croácia por parte da Alemanha. O Banco Mundial começou a negar empréstimos à Jusgoslávia. Em 1999, numa conferência de paz para o Kosovo, realizada em Rambouillet, França, houve um anexo B secreto, introduzido à última hora, exigindo a ocupação militar de toda a Jugoslávia e a introdução de uma economia de mercado livre e a privatização de todos os bens governamentais. Como esta cláusula não foi aceite, as bombas da Nato resolveram o assunto. Este caso foi o precursor das catástrofes do Afeganistão, do Iraque, da Síria, da Líbia e da Ucrânia.

4 Nos anos 60, uma revolução transformou o Afeganistão, na altura o país mais pobre do mundo. As reformas aboliram o feudalismo, deram liberdade de religião e direitos iguais para as mulheres e justiça social para as minorias étnicas. O governo introduziu cuidados médicos grátis para os mais pobres e um vasto programa de alfabetização foi lançado. Todas estas mudanças foram consideradas desestabilizadoras. Em 1979 a Casa Branca autorizou a oferta de 500 milhões em armas e logística para apoiar grupos fundamentalistas para derrubar este governo reformista. Estes mujahedins foram os antecessores da al-Qaeda e do Estado Islâmico. O seu lider, Gulbuddin Hekmatyar, recebeu milhões da CIA. Na vida real traficava ópio e despejava ácido nas caras das mulheres que recusassem o uso do veu. Foi elogiado pela primeira-ministra britânica Thatcher como «combatente da liberdade». Muitos dos operacionais que aderiram aos Talibans e à a-Qaeda foram recrutados numa universidade islâmica em Brooklyn, Nova Iorque, e treinados num campo da CIA na Virginia.

5 «Acredito no excepcionalismo americano com toda a fibra do meu ser», disse Obama, evocando declarações do fetichismo nacional dos anos 30. Carl Schmitt, um admirador de Hitler, dizia que «o rei é aquele que decide a excepção». Isto resume o americanismo, a ideologia dominante. Mantê-la disfarçada como ideologia predatória é o objetivo de uma lavagem ao cérebro também disfarçada. Cresci numa dieta cinematográfica de glória americana. Eu não sabia que o Exército Vermelho tinha destruído a maior parte da máquina de guerra nazi à custa da perda de 13 milhões de soldados, enquanto as perdas americanas se ficaram pelos 400 mil. Hollywood trocou este pormenor. 

6 Durante a Segunda Guerra Mundial, a América e o Reino Unido atacaram a Grécia, que tinha lutado heroicamente contra o nazismo e resistia contra a ascensão do fascismo grego. Em 1967, a CIA ajudou a colocar no poder uma junta militar fascista em Atenas, tal como fez no Brasil e noutros países da América Latina. Alemães que se tinham conluiado com a agressão nazi e cometido crimes contra a humanidade mereceram paraísos seguros nos EUA.

7 Nos anos 90, as antigas repúblicas soviéticas e os Balkans tornaram-se postos avançados da Nato. Responsável pelas mortes de milhares de judeus, polacos e russos durante a invasão nazi da União Soviética, o fascismo ucraniamo foi reabilitado e rotulado de nacionalista. Em 2014, Obama investiu 5 biliões de dólares num golpe contra o governo eleito. As tropas de choque foram os neo-nazis do Svoboda e do Sector Direita, mais tarde integrados no governo golpista de Kiev. Victoria Nuland, vice-secretária de estado para os Assuntos Europeus, criticou os europeus por estarem contra o armamento do regime de Kiev. Ela foi o cérebro do golpe de Kiev. Mas o golpe não correu como eles queriam. A Nato foi impedida de invadir a Crimeia. A maioria da população russa da Crimeia, ilegalmente anexada por Nikita Krushchev em 1954, votou em massa para pertencer à Rússia. Não houve nenhuma invasão. Simultaneamente, o regime de Kiev tenta fazer uma autêntica limpeza étnica na população russa do leste do país. Tem valido tudo. Mais de um milhão de refugiados fugiram para a Rússia. Segundo os media ocidentais, eles fogem da violência provocada pela invasão russa. Nenhuma prova dessa invasão foi até agora exibida, o que é estranho numa época em que é fácil usar provas via satélite. Em 2 de maio de 104, em Odessa, 41 russos foram queimados vivos na sede do sindicato na presença da polícia. Os media americanos e britânicos consideraram a ocorrência uma triste tragédia, resultado de escaramuças entre nacionalistas (neo-nazis) e separatistas (pessoas que recolhiam assinaturas para um referendo sobre uma Ucrânia federal). O New York Times enterrou a estória, o Wall Street Journal responsabilizou as vítimas pelo massacre e Obama elogiou a junta pela sua moderação. Em 21 de fevereiro, o senador republicano James Inhofe, propôs o envio de armas para o regime de Kiev. Na sua apresentação ao Senado, usou fotos que disse serem de tropas russas invadindo a Ucrânia, mas as fotos foram de imediato consideradas falsas. Isto faz lembrar as provas falsas fornecidas por Colin Powell acerca das armas de destruição massiva no Iraque. Os donos do mundo querem dominar a economia da Ucrânia e querem torná-la uma base de mísseis. A nova ministra das Finanças de Kiev, Nataliwe Jaresko, é uma antiga técnica do departamento de Estado responsável pelo investimento norte-americano no estrangeiro. Deram-lhe a cidadania ucraniana à pressa. Eles querem o gás da Ucrânia; o filho do vice-presidente Joe Biden faz parte da administração da maior empresa ucraniana de petróleo, gás e fraturação hidráulica. A gigante de sementes transgénicas Monsanto quer os terrenos férteis da Ucrânia. No fundo, eles querem o poderoso vizinho da Ucrânia: a Rússia. Querem desmembrá-la para explorar a maior fonte de gás natural do mundo. Com o gelo do Ártico a derreter, eles querem controlar o Ártico e as suas riquezas energéticas. O seu agente em Moscovo era Boris Yeltsin, um bêbado que estendeu a economia do país ao ocidente. Putin, o seu sucessor, reestabeleceu a soberania russa, e esse é o seu crime.

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