Ribeira da Praia, Água D'alto, S. Miguel. Foto de Pedro
Silva 25out2014.
O projeto de uma incineradora em S. Miguel parece estar mesmo decidido. A Associação de municípios da Ilha de S. Miguel lançou novo concurso para este objetivo. A obra está orçada em 68 milhões, muito abaixo dos 80 milhões previstos no concurso anterior.
Ricardo Rodrigues, - lembram-se da estória deste deputado com os telemóveis e gravadores dos jornalistas? -, o presidente da associação de municípios de S. Miguel, garante que o projeto vai avançar de forma rápida e eficaz, através de uma parceria pública ou privada. 58 dos 68 milhões serão avançados por verbas europeias.
Tem merecido alguma contestação a ideia de uma incineradora em S. Miguel, alegadamente associada à produção de energia para bombear água da Lagoa das Furnas em sistema de vaivém com um reservatório na Achada das Furnas. Uma consulta pública decorreu durante as últimas duas semanas de Agosto de 2011 e terá apanhado o público desprevenido e desinformado. Por isso, um grupo de cidadãos entregou uma petição às autoridades locais e regionais com o intuito de convencer quem de direito a arrepiar caminho. O grupo defendia que um programa de redução, reutilização e reciclagem de acordo com o PERSUS II (Plano Estratégico dos Resíduos Sólidos Urbanos) seria muito mais barato e ambientalmente mais sustentável do que a opção apontada pelo governo regional de Carlos César, porque, entre outros aspetos, (1) na incineração, a produção de energia eléctrica tem um aproveitamento muito baixo relativamente ao total de resíduos incinerados, ficando na ordem dos 7% a 15% do total, perdendo-se na incineração 85% a 93% do calor produzido e perdendo-se a energia já gasta no fabrico dos resíduos que serão incinerados; (2) os resíduos da incineração causam impactos negativos para a saúde, quer humana, quer animal, por libertarem grandes quantidades de compostos químicos como dioxinas, furanos, benzeno, etc. e metais pesados como o chumbo, cádmio, mercúrio, arsénico; (3) as dioxinas são um produto químico extremamente difícil de ser filtrado e que escapam inevitavelmente para o exterior da incineradora, apesar da alta tecnologia empregue; (4) os resíduos da incineração não podem ser depositadas em aterros, por serem tóxicos e muito poluentes, podendo, com este processo, tornar-se ainda mais tóxicos do que os originais.
Posteriormente, em 2012, o grupo Amigos dos Açores enviou uma carta ao Presidente do Governo dos Açores pedindo-lhe para suspender a instalação da incineradora, alegando que: (1) a incineração de lixos não é uma solução segura porque no processo de queima de lixos há libertação de dioxinas que depois caem nas pastagens e entram facilmente na cadeia alimentar; (2) a existência de uma incineradora colide com os enormes esforços levados a cabo pela Região no sentido de se promover externamente como um destino ambientalmente puro, sustentável, de natureza viva, o último paraíso da Europa; (3) a incineradora é inimiga da reciclagem e, por isso, a Região poderá não cumprir as metas estabelecidas pela comunidade europeia e será uma desilusão para os milhares de jovens para quem foram feitas inúmeras campanhas de educação ambiental baseadas na promoção dos 3Rs; (4) a construção da incineradora, que está orçada em 90 milhões, apenas favorece os fornecedores internacionais e vai servir para poluir a Região e reduz a oferta de empregos uma vez que a reciclagem cria 10 vezes mais emprego do que as soluções de aterro ou de incineração.
Entretanto, a proposta do BE de um referendo sobre o projeto foi chumbada na assembleia municipal da Ribeira Grande pelo PSD e do PS.
Em parte compreendo a posição do PS e do PSD. Presumo que partem do princípio de que queimando os resíduos poderão não só obter alguma forma de energia que poderá vir a ser injetada na rede (por isso andam a piscar o olho à EDA de Duarte Ponte), mas também evitar a redução da área agrícola devido à crescente acumulação de resíduos nessas zonas. Devem também esperar que as frequentes brisas dissipem a poluição atmosférica resultante da incineração. No entanto, está mais que provado que a incineração é altamente perigosa e nefasta para o Ambiente e para as pessoas. Amigos, não digam que uma incineradora é a melhor solução para depois a esconderem debaixo dos mais variados truques de esverdeamento e das mais elegantes estratégias de relações públicas.
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