segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Bico calado


Chuva no Nabal, 
por Paulo Morais in CM18out2014

"As recentes inundações nas cidades não são culpa das chuvadas. Há outras causas para estes alagamentos, que resultam de dois fatores conjugados: falta de manutenção da via pública e especulação imobiliária, resultante da corrupção urbanística.
A gestão do espaço público, que deveria ser a primeira das responsabilidades das câmaras, é justamente a mais esquecida. Não há, por regra, um sistema global de manutenção. Este deve prever intervenções regulares nas ruas, passeios e jardins; deve contemplar limpeza de sarjetas, condutas de águas pluviais, sistemas de saneamento. (...) Mas, sem sistema de manutenção, as cidades ficam à mercê das intempéries. Apenas há intervenções de emergência, ou de conveniência, aquando de períodos eleitorais. Tal só é possível porque os autarcas andam mais preocupados com a distribuição de 'tachos' pelos seus apaniguados; e com a atribuição de negócios aos financiadores das campanhas, os promotores imobiliários.
São, aliás, os 'boys' que por norma dirigem os serviços de 'via pública', sem para tal disporem da mínima competência. Os 'boys' são eficazes a cacicar votos – mas são uns verdadeiros 'nabos' a tratar do espaço público, que assim se transforma num enorme nabal.
A par do abandono da via pública, assistiu-se nos últimos anos a uma construção desenfreada. Edificou-se ilegalmente em zonas de reserva ecológica e agrícola, sobre veios de água – provocando uma insustentável impermeabilização do solo. Sem espaço de circulação, a água reage violentamente e inunda zonas que deveriam ser reservadas às pessoas. É a vingança da natureza sobre a má gestão urbana. Pena é que os criminosos sejam autarcas e promotores imobiliários, enquanto vítimas de vingança são os cidadãos. António Costa admitia há dias que 'não existe solução para as cheias'. De facto, com esta classe política, não existe solução. Nem para as cheias, nem para o País."

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