- “O capitalismo está em insolvência, já se percebeu, e não se descortina outro sistema, mais humano, mais próximo da nossa razão de existir, que se oponha, veementemente, a esta brutalidade. Porque os conflitos e as chacinas, registados um pouco por todo o mundo, não são, apenas, de ordem religiosa, o que já não seria pouco: resultam da crise geral do capitalismo; da necessidade de expansão da indústria armamentista, e da cedência imoral das forças que deveriam constituir-se como escudo contra a selvajaria.” Baptista Bastos in JNegócios 22ag2014.
- “O povo construído pela televisão é degenerado, ridículo, monstruoso. E os seus criminosos construtores têm nomes publicamente conhecidos e sucesso alargado: são as Júlias, as Luísas, os Joões, os Manueis e os seus directores de programas, produtores, chefes, empresários, até ao topo da hierarquia. (...) O povo da televisão — e esse é o segredo da sua telegenia — coincide quase sempre com os pobres, os deserdados, os excluídos, os que não têm acesso aos centros do poder. Mas a televisão não concede ao seu povo existência política. Pelo contrário, retira-lha e despolitiza-o, mesmo quando ele surge enquadrado num contexto ou num motivo políticos. Quantas vezes não assistimos já às câmaras a fazerem um grande plano sobre as mãos encarquilhadas, ou qualquer outra parte do corpo, do indivíduo do “povo” que se queixa de uma qualquer decisão — ou da ausência dela — dos governantes? Nesse momento, a pessoa é espoliada do seu estatuto político e ganha uma espécie de qualidade étnica. Já alguém deu por a televisão fazer um grande plano das mãos de um ministro? Já alguém viu, na televisão, as mãos de Marcelo Rebelo de Sousa a não ser como instrumentos de gesticulação expressivo-didáctica? O povo da televisão não é representado como sujeito minoritário do corpo de todos os cidadãos. É visto, antes, como espécie castiça de um parque natural que fica longe, muito longe, da Comporta. Deste modo, este povo que a televisão reconstrói e deforma à medida das suas exigências tem alguns pontos de coincidência com o povo do populismo. Mas há uma diferença fundamental: o populismo dirige-se à classe geralmente excluída da política e que, por isso, não tem privilégios de sujeito político constitutivo, reclamando que essa classe é o único poder legítimo, é uma parte do povo como categoria política, detentor da soberania, que deve funcionar como a totalidade da comunidade. A televisão, pelo contrário, quer tudo muito bem arrumado nos seus lugares e que não se quebre a harmonia estabelecida no parque natural do povo." António Guerreiro in O povo da televisão, Público 22ag2014 .
- “Não sejamos inocentes. Ninguém paga as quotas de alguém sem esperar alguma coisa em troca. O caso de Braga não é novo. Nos últimos anos, os partidos com disputas internas fizeram grandes esforços para acabar com os fantasmas que durante décadas foram um triste clássico da vida política portuguesa: as inscrições-fantasma, as quotas-fantasma, os militantes-fantasma, as moradas-fantasma. Desapareceram, por exemplo, as histórias de militantes que chegavam às sedes dos partidos com caixas de sapatos cheias de notas para pagar as quotas de dezenas de pessoas de uma só vez. (...) Não é por isso aceitável que os partidos, os seus líderes e os seus conselhos de fiscalização se escudem em questões técnicas ou jurídicas para não serem mais transparentes e eficazes. Não é verdade que o PS não pode fazer mais nada além de retirar das listas os nomes dos militantes que pagaram quotas, mas que afinal estavam mortos. Sendo o PS titular da conta na qual foram depositadas as quotas, o PS pode — se quiser — pedir ao seu banco o nome de quem pagou a quota em nome de outra pessoa. Esse direito faz parte, por exemplo, da Lei de Defesa do Consumidor de 1996. O PS pode não querer divulgar, em nome do sigilo bancário, o nome de quem fez as transferências bancárias, mas pode identificar os autores destes “presentes” e agir sobre isso. Estes militantes voluntariosos não estão a violar a lei nem os estatutos do partido, mas não deveriam ter lugar nas estruturas partidárias. E isso só a direcção pode fazer —se quiser. Editorial Público 23ag2014.
- “Hospitais privados crescem e já têm mais de um quarto do total de camas. Os hospitais privados multiplicaram-se nos últimos anos e hoje já são responsáveis por 28% das consultas externas e 12% das urgências. Este ano, apesar da crise, estão a crescer mais do que é habitual. Público.
Recortes de notícias ambientais e outras que tais, com alguma crítica e reflexão. Sem publicidade e sem patrocínios públicos ou privados. Desde janeiro de 2004.
domingo, 24 de agosto de 2014
Bico calado
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