“Há factos indesmentíveis que mostram por que a Linha do Tua é útil e sustentável.
No passado dia 8 de Julho deparei-me com um peculiar artigo de opinião , no Público, da autoria do arquitecto paisagista Henrique Pereira dos Santos. Nele, o colunista classificava a Linha do Tua de “inútil”, “insustentável” e que “não serve ninguém”, no mesmo artigo em que o próprio se considera um leigo em matéria ferroviária, e onde incentiva ao combate aos “preconceitos”, “antes de qualquer discussão de fundo”.
Para além das óbvias contradições explícitas no parágrafo supra, o arquitecto colunista demonstra uma profunda ignorância sobre o que representa a Linha do Tua.
À chegada à década de 1990, o movimento diário de mercadorias era de 500 senhas de despachos até 20 quilos, 30 toneladas de mercadorias diversas e em média cerca de 70 toneladas de adubo; são cinco camiões TIR num único comboio.
Em termos de passageiros, o brutal desinvestimento aliado a horários que levavam trabalhadores e estudantes a chegarem depois da hora de entrada e a partirem muito depois da hora de saída, levou a que numa década o movimento passasse dos 500 mil para os 200 mil.
Chegou o IP4, encerrou-se o troço Mirandela-Bragança na Noite do Roubo, alimentaram-se empresas regionais rodoviárias de passageiros com contratos de prestação de serviços de substituição do comboio, onde ao passageiro se cobrava a tarifa de comboio, mas à CP se cobrava tarifa de autocarro (mais cara), negociou-se a venda de parte do material ferroso passados poucos anos, e a Linha do Tua foi citada em escândalos como o “Carril Dourado” e o “Face Oculta”, por furto e venda de carris.
No último Verão de comboios Tua- Mirandela-Tua, em 2008, os 190 lugares disponíveis esgotaram diversas vezes, logo à partida, com alguns casos de excursões a não poderem embarcar no Tua. Em 2010, só nos 16 quilómetros de via disponíveis, o movimento foi de 70 mil passageiros; são 14 vezes mais passageiros em um ano que o aeroporto de Beja em dois, e isto falando de automotoras com o consumo de um autocarro, mas o dobro da capacidade de passageiros.
Por fim, 2012 e 2013 foram anos consecutivos com contas a positivo para o Metropolitano Ligeiro de Mirandela, que é mais do que se pode dizer dos metros de Lisboa ou Porto, subsidiados pelo Estado.
Estes são factos indesmentíveis, fruto não de preconceito e falta de conhecimento tácito, ingredientes basilares do insulto gratuito.
Mas irei plus ultra: em Janeiro de 2013, foi requalificada uma via métrica gaulesa, que liga os três municípios de Salbris, Romorantin, e Valençai, servindo um total de 25.210 habitantes, com comboios a 70 km/h. A linha conecta-se com outra que se une em Tours a uma linha de Alta Velocidade para Paris, e o investimento de 14 milhões de euros foi repartido pelas correspondentes francesas às nossas CCDR, REFER e municípios. O projecto ganhou um prémio de Inovação, e outro de Mobilidade.
No eixo Mirandela-Bragança, a Linha do Tua serve três municípios com 74.967 habitantes, num traçado para 60 a 70 km/h as it is. De Bragança à Sanábria, uma nova linha de 40 quilómetros ligaria directamente a Linha do Tua à linha de Alta Velocidade Madrid-Corunha, deixando ambos os extremos a apenas duas horas de Bragança. Com a A4 fortemente portajada, um ano laboral de deslocações entre Mirandela e Bragança ficará entre 2500 a 3000 euros mais caro do que indo de comboio, comprando um passe.
Não compreendo que fontes o arquitecto colunista consultou – se consultou – antes de classificar de forma tão leviana a Linha do Tua. As mesmas fontes que eu, certamente não foram.”
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