“É relevante o número elevadíssimo de manifestantes? Claro que é, até pelo contraste com o almofadado almoço de S. Bento, que significa que o PSD e o CDS nascidos com o 25 de Abril estão hoje acossados em todos os lados menos nos salões. Perderam a rua, não porque o desejassem – tenho a certeza de que se pudessem fazer uma grande manifestação, ou mesmo uma pequena manifestação de apoio ao Governo, certamente que a fariam. Mas não podem. Hoje, os partidos do poder não conseguiam mobilizar para uma rua qualquer nem quinhentas pessoas, puxando por todos os cordelinhos e os fundos largos à sua disposição. Conseguem duas mil nuns almoços de campanha, arregimentados pela camisola e pelos pequenos poderes locais, em certas zonas do país. Mas se o apelo for por causas tão genéricas como o apoio ao Governo, como muitos franceses fizeram a De Gaulle contra o Maio de 1968, então ninguém lá vai. Este abandono da rua não é por a rua ser de “esquerda”, mas porque a actual “direita” no poder estar de mal com o seu país, muito de mal.”
José Pacheco Pereira in O que cheirou a bafio no 25 de Abril, Público 26abr2014.
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