"Tomemos mais uma vez como exemplo, meramente por uma questão de comodidade, o povoado do Furadouro (Ovar).
Na frente deste povoado o cordão dunar não existe faz muitas décadas, tendo o mesmo sido ocupado pela frente urbana marginal, transformada a sul num parqueamento de terra batida coberta posteriorrnente com a areia arrastada da praia pelos ventos mareiros. Devido à forte erosão manifestada nesta praia ao longo dos anos e como forma de defesa das habitações fronteiriças ao oceano foram sendo construídas estruturas pesadas transversais, as quais acabaram por acentuar os fenómenos erosivos a sotamar das mesmas.
Pese embora este cenário extremamente grave, a ocupação intensiva desta faixa litoral continuou a verificar-se no presente, com novos empreendimentos na parte sul da praia denotando um total desrespeito pelos mais elementares princípios de gestão urbanística do litoral e consequentemente um profundo esquecimento dos cuidados elementares de proteção civil.
Apesar de o leitor poder encontrar razões fortes para a complacência em tais loucuras, será impensável poder continuar-se a assistir a estes ‘licenciamentos em cima da praia’. A existência no local de estruturas de ‘defesa costeira’ não pode criar na população a ideia (falsa) de segurança, nem justificar a permissão de novas construções por parte dos responssáveis, sob pena de a estes últimos caberem por inteiro no futuro (porque há vários anos devidamente alertados) as responsabilidades em caso de danos pessoais ou materiais.
Espera-se, deste modo, das próximas gerações de responsáveis autárquicos uma inversão das visões miopes e eleitoralistas de desenvolvimento do litoral assumidas nos últimos anos.
A Praia dos Tubarões, por Álvaro Reis, 2006, p163
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