sexta-feira, 12 de julho de 2013

Contos proibidos (49)

Olof Palme com quem eu mantinha uma grande amizade há mais de dez anos e tinha sido um dos heróis da minha juventude, estava convencido de que Mário Soares se tinha «vendido» aos americanos e associava-me, a mim, a essa traição ao socialismo. Palme era um homem generoso e, talvez, de perspectivas diferentes, aquele a quem mais o PS devia. O PSD sueco ajudara o PS e Mário Soares, mais do que nenhum partido europeu antes do 25 de Abril, dentro de uma proporção da própria realidade ASP/PS e sem nenhuma exigência de subserviência ou contrapartida. As imposições algo grosseiras dos alemães no campo económico, dos americanos no campo político e as pretensões francesas no campo cultural eram completamente indiferentes aos suecos que se moveriam por imperativos de ordem moral e ética pouco vulgares em política e, essencialmente, por solidariedade. (...) Palme não tinha confiança na CIA nem na coerência dos governos dos EUA. Tinha vivido de perto e com algum conhecimento de causa a intervenção norte-americana no Vietename, estando sempre com grande coragem ao lado dos oprimidos, tinha sentido com sinceridade a dor do povo chileno, apoiara como ninguém os movimentos de libertação em Africa e na América Latina. O seu papel em relação a Portugal e à Espanha não poderia ter sido mais sincero e generoso. (...) Para ele a CIA estava sempre do lado negativo o que, convenhamos, era provavelmente o seu grande handicap.

Contos proibidos, por Rui Mateus – Publicações D. Quixote lda, 1996, pp253-254

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