quarta-feira, 10 de julho de 2013

Contos proibidos (47)

"Quatro anos depois, em 1990, teria conhecimento que aquele artista (João Gomes) tinha processado a Fundação com a alegação que esta lhe deveria ter devolvido os originais das caricaturas. (...) As caricaturas tinham sido pagas e quem negociou os seus termos fora o jornalista e dirigente socialista João Gomes. Pedi a Roque Lino, fundador do PS e advogado, que se encarregasse do assunto e pediria a João Gomes que o informasse dos termos em que fizera o «contrato». Caso se verificasse que aquele artista tinha direitos sobre os originais, contrariamente ao que me fora dito sete anos antes, não haveria outra solução senão pedir a Mário Soares para os devolver ao artista, conforme era solicitado. Longe de mim qualquer intenção de ficar com um trabalho de tão alegado valor artístico. Mas Mário Soares não devolveria os seus originais e eu acabaria por ter que ir a tribunal enquanto presidente da FRI (Fundação de Relações Internacionais). Tanto quanto me seria então dito, o artista estava disposto a trocar a autoria dos seus «cartoons» por uma compensação de quinhentos contos, que eu teria de pagar do meu bolso logo ali, uma vez que então a Fundação não possuía meios para pagar esta dívida. A Mário Soares, que detém o livro, ninguém lhe ouviu uma única palavra não obstante toda a publicidade que jornais, com relevo para o Público — de que o artista então era colaborador — dariam àquele caso."

Contos proibidos, por Rui Mateus – Publicações D. Quixote lda, 1996, pp243-244.

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