“Deslumbrava-se frequentemente, por insuficiência própria, com qualidades de pessoas que na realidade não conhecia ou que pareciam dominar áreas que ele próprio [Mário Soares] desconhecia. Comprovando aquela deficiência, ao fim de um ano de Governo já tinham sido substituídos vários ministros e o próprio presidente da Assembleia da República e fundador do PS, Vasco da Gama Fernandes, também seria substituído por um outro histórico, Teófilo Carvalho dos Santos. Quando a Secretaria de Estado da Comunicação Social, para comemorar um ano de governo, publicou por ordem do primeiro-ministro um inacreditável livro intitulado Vencer a Crise, Preparar o Futuro, já todo o país exigia uma mudança de Governo, tal era a impopularidade em que caíra. É um livro revelador das tendências absolutistas de que Zenha falava e tinha mais semelhanças com as publicações dos regimes despóticos que primam pelos elogios ao chefe, do que com as de governos democráticos ocidentais, lembrando as inúmeras fotos do primeiro-ministro a sua avassaladora e imodesta omnipresença. Dos cinquenta mil exemplares distribuídos, pagos pelo erário público, transparecia um governo fútil e esbanjador.”
Contos proibidos, por Rui Mateus – Publicações D. Quixote lda, 1996, p123
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