quinta-feira, 15 de novembro de 2012

A arte de furtar (5)

“Quando Alexandre Magno conquistava o mundo, repreendeu um Corsário que houve às mãos por andar infestando os mares da índia com dez navios e respondeu-lhe discreto: Eu quando muito dou alcance, e saco a um ou dois navios, se os acho desgarrados por esses mares e V. Alteza com um exército de quarenta mil homens vai levando a ferro e fogo toda a redondeza da terra, que não é sua; eu furto o que me é necessário, V. Alteza o que lhe é supérfluo. Diga-me agora, qual de nós é maior pirata, e qual merece melhor essa repreensão? Quiz dizer nisto, que também há Reis ladrões, e que há ladrões que furtam o que lhes é necessário e que há ladrões que furtam também o supérfluo. Estes são ladrões por natureza, e aqueles o são por desgraça. Deus nos livre de ladrões por natureza, porque nunca têm emenda. Os que furtam por desgraça, mais sofriveis são, porque não são tão contíuos.”

A Arte de Furtar, Tomé Pinheiro Da Veiga/Padre António Vieira, p75-76 – Oficina de Martinho Schagen, Amsterdão 1744

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