quarta-feira, 7 de novembro de 2012

A arte de furtar (3)

"E é lanço muito contrário ao natural dos ladrões que gostam de andar em quadrilhas, e terem companheiros, e serem muitos, para se ajudarem uns aos outros. Mas isto é em ladrões mecânicos, e vilões de trato baixo. Há ladrões fidalgos tão graves que se querem sós, e que ninguém mais sustente o banco. Vê-se isto por essas Ilhas, e Conquistas, e também cá no Reino. Há em certa parte certa droga buscada e estimada de estrangeiros, que em certo tempo infalivelmente a buscam para fazerem carregação dela. Que faz neste caso o poderoso? abarca toda de antemão pelo menor preço, obrigando os lavradores dela, que lha levem a casa, em que lhe pez: e como se vê senhor de toda, fecha-se com ela, e talha-lhe o preço a seu padar, de sorte que o estrangeiro há de bebê-la, ou vertê-la a seu pezar."

Tomé Pinheiro Da Veiga/Padre António Vieira, A Arte de Furtar, p29 – Oficina de Martinho Schagen, Amsterdão 1744

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