domingo, 4 de novembro de 2012

A arte de furtar (2)

“E tal é, que acontece em muitas Repúblicas do mundo, e até nos Reinos mais bem governados, os quais para se livrarem de ladrões, que é a pior peste que os abrasa, fizeram varas , que chamam de Justiça, isto é, Meirinhos, Almoraceis, Alcaides, puzeram guardas, rendeiros, e jurados, e fortaleceram a todos com Provisões , Privilégios e Armas. Mas eles, virando tudo do carnas para fora , tomam o rasto às avessas, e em vez de nos guardarem as fazendas, são os que maior estrago nos fazem nelas. De sorte que nao se distinguem dos ladrões, que lhes mandam vigiar, em mais senão que os ladrões furtam nas charnecas, e eles no povoado, aqueles com carapuças de rebuço, e eles com as caras descobertas.”

Tomé Pinheiro Da Veiga/Padre António Vieira, A Arte de Furtar, p19-20 – Oficina de Martinho Schagen, Amsterdão 1744

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