Frederico Duarte Carvalho, Cavaco vs Cavaco p212-213, Vogais 2012
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domingo, 14 de outubro de 2012
Cavaquices (12)
“Assim, dois dias antes da discussão da moção de censura do PRD, a 31 de março de 1987, o PCP propôs na Assembleia da República que fosse constituída uma comissão de inquérito parlamentar para investigar o tráfico de armas norte-americanas em Lisboa. As notícias estavam nos orgãos de comunicação social dos EUA e apontavam Lisboa como um local privilegiado para obscuros negócios internacionais. Impunha-se, portanto, uma investigação. Fernando Nogueira, então o ministro-Adjunto e para os Assuntos Parlamentares, foi chamado a defender a posição do executivo português e garantiu que, em relação ao govemo, não há nada em todo o processo relativo ao denorninado ‘Irangate’ que possa comprometer a sua postura e o respeito pelas leis portuguesas e pelas regras da ética’. No entanto, o inquérito foi aprovado com os votos favoráveis do PS, PRD e PCP e as abstenções do PSD e CDS. O inquérito nunca se veio a realizar e Cavaco nunca teve de responder sobre o tráfico de armas em Portugal. E a razão é simples: a moção de censura do PRD foi aprovada pela maioria da Assembleia da República as 20 horas e 55 minutos de sexta-feira dia 3 de abril de 1985 e o Presidente da Republica, Mario Soares, depois de dias a ponderar, decidiu a 28 de abril dissolver o Parlamento e convocar eleições antecipadas. Seriam as eleições antecipadas de 19 de julho de 1987. A comissão parlamentar ao inquérito das armas norte-americanas que passaram em Portugal, que ameaçava ter de investigar negócios de 1980, do tempo da AD, e ainda de 1983, do tempo do ‘Bloco Central’, ficou suspensa devido à decisão de Mário Soares. Se o Presidente da Republica tivesse optado pela solução parlamentar e mandatasse PS e PRD para formar governo, então o inquérito teria avançado. Assim, para poder avançar, teria de ser novamente apresentado, votado e aprovado. Mas tal não voltaria a suceder. A 19 de julho de 1987, Cavaco Silva, aproveitando a ‘benesse’ do PRD e a posição democrática de Mário Soares, venceu, como esperava, a primeira maioria absoluta da sua carreira politica. Outras três se iriam seguir. Uma mais para primeiro-ministro e outras para a Presidéncia da República. O tráfico de armas em Portugal nos anos 1980 ainda hoje está por investigar.”
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