- “A ausência popular nas cerimónias, a pompa militar deslocada, a solenidade vazia - tudo isso apenas amplificava a sensação de que ali se encenava um ritual sem alma, uma comemoração desconectada do povo que um dia inundou as ruas com esperança.” João Gomes. A RAIVA PELOS CRAVOS VERMELHOS – UM SIMBOLISMO CONTRA ABRIL.
- “E o embaraço dos militares na televisão a tentar explicar porque é que os portugueses são indiferentes ao 25 de Novembro? As ruas completamente vazias são prova disso. De uma Praça do Comércio quase cheia para assistir à iluminação de uma árvore de Natal a uma Praça do Comércio vazia com uma parada militar a imagem é muito óbvia. Também tentam esconder factos relevantes. Recordo que, a 25 de Novembro, despediram cerca de 150 jornalistas de meios estatais de forma ilegal num processo de saneamento e perseguição política. Fizeram aquilo que acusaram outros de querer fazer. O 25 de Novembro não foi uma tentativa de golpe da esquerda. Foi um protesto de um sector das forças armadas contra mudanças na hierarquia militar usado como pretexto para a direita militar iniciar um golpe para esmagar a revolução. Ninguém saiu à rua para defender o golpe da direita. Os únicos que o fizeram foi para tentar evitar esse golpe. Não tiveram qualquer legitimidade ou apoio popular. De tal forma, que meses mais tarde a direita foi obrigada a aceitar uma constituição que tem o socialismo inscrito no seu preâmbulo. 50 anos depois podemos dizer que são 50 anos de ruas vazias de qualquer capacidade de celebrar o 25 de Novembro. A direita podia tê-lo feito e nunca tentou porque sabe que seria um fracasso. Ainda assim, é um facto que o 25 de Novembro é a data em que a esquerda militar é derrotada e se inicia um processo contra-revolucionário. Quando hoje se fala da data que inscreveu definitivamente a liberdade e evitou um regime comunista, como alega a direita, nunca se diz o que realmente se celebra: o início do processo que empurrou o país para mais desigualdades sociais, pobreza, privatizações, desmantelamento do aparelho produtivo, entrega do poder aos grandes grupos económicos e financeiros e a perda da nossa soberania para a União Europeia.” Bruno Carvalho.
- “Eu chamo lhe o que o gesto traduz, o que a intenção denuncia, o que o ridículo confirma: Suíno, porque revolve na lama da ignorância, porque grunhe contra a liberdade, porque mastiga a história como se fosse lavagem, e porque cada vez que abre a boca lembra ao país porque foi preciso o 25 de Abril. E continuará a ser preciso enquanto figuras destas tentarem embranquecer aquilo que nasceu vermelho, a liberdade.” Tom o Gato.
- “(…) O golpe foi preparado durante meses pelo Grupo dos Nove, pelo Presidente da República Costa Gomes, pelas direções do PS e do PSD, pela hierarquia da Igreja Católica e diversos sectores da direita, como referem os autores. Contou com o apoio político e financeiro dos Estados Unidos, da Alemanha Federal e da NATO. Os conspiradores também sabiam que podiam contar com o apoio implícito da União Soviética, a qual desejava evitar qualquer regime socialista em Portugal, país que estava na esfera de influência do Ocidente, quando negociava o desanuviamento com a Conferência de Helsínquia. Mas não se sabia no concreto como reagiria o PCP no momento do golpe, sobretudo os seus militantes de base. Uma coisa era certa, os contra-revolucionários não poderiam parecer golpistas e, portanto, a narrativa a usar era óbvia: o golpe tinha como objetivo salvar a democracia e o socialismo, mas as suas intenções, como o livro bem demonstra, estavam desenhadas e planeadas com meses de antecedência, desde julho de 1975. “Quem saísse primeiro, perdia”, dizia-se. Só precisavam de um pretexto. Aumentaram intencionalmente as fricções com a esquerda militar, como se estivessem a jogar xadrez, e o pretexto acabou por surgir: a saída dos paraquedistas, militares que foram, primeiro, instrumentalizados e, a seguir, maltratados pelos seus superiores. “[Os Nove] Sabiam que, se o Regimento dos Páras fosse decepado dos seus elementos mais importantes, ficaria uma força à deriva, suscetível de fazer as maiores loucuras”, afirmou Costa Gomes na década de 1990, citado pelos autores. A saída dos paraquedistas tornou-se o cerne da disputa pela memória, com uma pitada de mistério fetiche: quem deu realmente a ordem? Foi Otelo Saraiva de Carvalho? Foram oficiais do COPCON? Foi o PCP? Foram oficiais independentes da Força Aérea? E, no entanto, o significado histórico dessa questão, como os autores argumentam, é “quase irrelevante” para a análise do processo revolucionário. É mais uma curiosidade histórica, instrumentalizada no combate político pela memória, e que alimenta uma abordagem a-histórica desse dia e do processo revolucionário. Porque é impossível isolar-se esse dia dos acontecimentos políticos dos meses anteriores. Ao fazê-lo, caímos no fetichismo histórico que desvia as atenções. Porém, e sem querer desviar as atenções, diga-se que, passadas décadas e décadas, o mistério fetiche parece ter sido desvendado, e esse é uma das novidades deste livro: foi o PCP, na pessoa de Jaime Serra, quem deu a ordem para os paraquedistas saírem com o intuito de decepar a esquerda militar, a qual tinha fugido do seu controlo, ameaçando o posicionamento de Portugal na ordem internacional da Guerra Fria. Os paraquedistas não saíram da base aérea de Tancos com o intuito de fazerem um golpe. Pretendiam fazer sessões de esclarecimento aos militares dos restantes ramos das Forças Armadas. Sentiam-se humilhados. Em causa estava a sua constante instrumentalização, a desativação da Base-Escola de Tropas Paraquedistas, o envio de 123 oficiais para o Norte, o congelamento dos vencimentos dos sargentos e praças paraquedistas e até o bloqueio de alimentos e eletricidade à base. Uma série de humilhações intoleráveis para qualquer militar. No entanto, quando os líderes do PCP perceberam que estavam a perder o controlo da situação, que uma mera faísca poderia resultar num confronto militar em Lisboa com uma relação de forças muito assimétrica, recuaram, recusando distribuir armas aos seus militantes, instando os fuzileiros a não saírem e apagando as pistas sobre a intervenção do partido na quartelada. Otelo Saraiva de Carvalho não quis assumir a liderança militar revolucionária. Melo Antunes e Álvaro Cunhal negociaram num prédio em Lisboa e o PCP não interveio. O golpe contrarrevolucionário triunfou e o PCP foi considerado peça essencial da democracia-liberal, garantindo a sua legalidade e afastando de vez o cenário de erradicação tão temido pelo partido – o espectro do golpe de Estado no Chile, em 1973, assombrava-o. O génio político de Cunhal na Revolução foi enorme: dar a entender que desejava avançar com a Revolução socialista quando, na verdade, não a desejava, travando-a de acordo com os interesses geopolíticos da União Soviética. Este é um outro grande contributo deste livro, juntando-se ao já dado no livro História do PCP na Revolução dos Cravos, também de Raquel Varela. Um dia depois do 25 de Novembro, 400 militares da esquerda militar foram presos sem culpa formada, todos os órgãos democráticos das Forças Armadas foram gradualmente expurgados e suprimidos e a grande maioria dos militares incorporados depois de Abril de 1974 foi desmobilizada. A disciplina militar regressava aos quartéis, sufocando qualquer ímpeto revolucionário. Seguiram-se despedimentos em massa nos órgãos de comunicação social, nacionalizados no seguimento do 11 de março de 1975, e, em 1976, o poder político pôs fim à autogestão democrática das escolas. Em 1979, uma nova lei enfraqueceu as comissões de trabalhadores, privilegiando os sindicatos afetos à CGTP e à UGT, e em 1982 pôs-se fim à gestão democrática dos hospitais. O aparelho de Estado capitalista reconsolidou-se, a hegemonia cultural foi reconquistada. (…)” Ricardo Cabral Fernandes, 25 de Novembro: o golpe que impediu a ação coletiva de conquistar a utopia – Substack.
- Breves notas sobre o 25 de Novembro de 1975. António Carmo Vicente e António Louçã, Substack.
- O Jornalismo passou a ser crime (com a ajuda do silêncio dos jornalistas). Elisabete Tavares, P1.
- Agentes de IA do Windows 11: conveniência ou um novo vetor de ataque? Enrique Dans, Medium.
Sem comentários:
Enviar um comentário