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domingo, 20 de julho de 2025

BICO CALADO

  • "Ninguém constrói uma barraca porque quer. Constrói uma barraca porque não tem alternativa para os seus filhos e para si próprio. Porque tem o profundo desejo de dar um telhado, um abrigo, um futuro à sua família, mesmo quando o presente lhe fecha as portas de uma habitação digna. Foi assim nos anos 60, quando milhares de portugueses chegaram a França, fugidos da pobreza, da ditadura e da guerra. Nos subúrbios de Paris, encontraram apenas terrenos baldios e silêncio. E aí, com restos de madeira, chapas de zinco e bidões, nasceram os bidonvilles portugueses. As casas não tinham água, nem luz, nem chão firme — mas dentro delas crescia o que mais importava: a esperança. Aquelas barracas eram frágeis, mas abrigavam gente corajosa. Gente que acordava antes do sol para ir trabalhar nas obras, que fazia fila para aquecer água ao lume, que ensinava os filhos a escrever sobre caixas de cartão. Gente que queria apenas viver com dignidade. E hoje? Hoje, em Loures, voltamos a ver as mesmas imagens: barracas derrubadas, crianças a chorar, mulheres a empacotar a vida num saco de plástico. Hoje, como então, ninguém construiu uma barraca por gosto. Construiu porque o Estado falhou, a habitação é um privilégio, e a promessa constitucional de uma casa condigna para todos continua por cumprir. O que se passou esta semana em Loures — com a demolição de habitações sem garantia de realojamento — é uma ferida aberta na consciência coletiva. Não é aceitável, num país que já foi bidonville na pele, repetir o ciclo da humilhação. Demolir sem alternativas é negar o futuro a quem já quase nada tem. Tal como os nossos emigrantes de Champigny, estas famílias querem apenas uma oportunidade. Um teto. Uma vida. Uma hipótese de contribuir, crescer e pertencer. E se é verdade que ninguém constrói uma barraca porque quer, então que nos perguntemos: porque é que ainda hoje tanta gente tem de o voltar a fazer?” Rui Lourenço.
  • O Instituto Kiel, o CSIS, a BBC e a Forbes Ucrânia convergem no reconhecimento do impressionante volume de armamento encaminhado pelo Ocidente entre Abril de 2022 e Junho de 2025. Dos 731 carros entregues, 585 a 690 foram destruídos, ou seja, entre 80 e 90%. Dos 1557 veículos blindados doados, entre 1.165 e 1.400 foram perdidos em zona de combate, perfazendo entre 75 e 90% das remessas. No que a artilharia respeita, foram transferidas 1.039 peças, tendo os russos destruído entre 625 e 850, ou seja, entre 60 e 80%. Resumindo, a Ucrânia já perdeu nesta guerra o equivalente à soma combinada dos carros de combate, blindados e peças de artilharia das forças armadas da França, Reino Unido e Alemanha. A Europa foi mesmo morrer nas estepes da Ucrânia. Miguel Castelo Branco.
  • "O SNS continua a ser o principal lugar onde se pratica medicina como missão. É o único sítio onde alguém com dispneia, febre e uma vida marcada pela pobreza é atendido às 4 da manhã, sem cartão de crédito nem autorização da seguradora. E, paradoxalmente, é também de onde os médicos agora fogem. A maioria dos hospitais privados, mesmo os mais prestigiados, não tem um verdadeiro serviço de urgência polivalente. Têm “uma” urgência, mas não é “o” serviço de urgência. Procuram episódios previsíveis e lucrativos, e evitam casos críticos ou complexos — e fazem-no com razão: a urgência real é dispendiosa e imprevisível, fora da lógica do negócio. O setor privado funciona melhor quando o SNS ainda resiste. Se o SNS colapsar, o privado será forçado a assumir um papel para o qual não está preparado, com custos, complexidade e caos. Em 2024, mais de 2 mil médicos saíram do SNS. Muitas urgências, da ginecologia à pediatria, estão em rutura. Os privados estão a ver isto. E não reagem. Porquê? Porque não lhes interessa esse buraco negro. Imagine: suspeita de enfarte. São 3 da manhã. O hospital público não tem cardiologista. Liga para o privado. A resposta? “Vá ao público.” Mas o público, nessa noite, não existe. E o privado não o recebe. E então? O que vale a sua riqueza? Nada! Pior, sem SNS, não há emergência pré-hospitalar. Morre-se antes de (a algum sitio) chegar. A medicina privada não é vilã: atua racionalmente num mercado com limites claros. O erro é pensar que pode substituir o SNS. Se o SNS colapsar, o custo da saúde torna-se incalculável, mesmo os ricos teriam dificuldade em pagar: os seguros sobem, doentes crónicos são excluídos e os idosos empurrados para fora. O privado recusaria casos complexos ou ficaria sem onde os referenciar. E os médicos, exaustos, voltariam a fugir — mas agora sem destino. (...)" João Cravo, médico pneumatologista.
  • O Ministro dos Negócios Estrangeiros, Péter Szijjártó, afirmou que a Hungria não participará no financiamento de armas americanas para a Ucrânia, mesmo que Washington proponha formalmente a iniciativa à UE. Fonte.
  • Centenas de trabalhadores do estaleiro de construção nuclear de Hinkley Point C, em Somerset, fizeram uma greve selvagem em protesto contra o alegado assédio moral por parte dos supervisores do projeto. Foi a segunda greve não oficial a ter lugar no espaço de uma semana, depois de uma paralisação na passada quarta-feira, desafiando os representantes sindicais e o promotor da obra, a francesa EDF, na sequência de alegações de que os quadros superiores da central de Hinkley têm intimidado o pessoal de engenharia. Fonte.

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