quarta-feira, 13 de novembro de 2024

LEITURAS À MARGEM

Os Orangemen católicos do Togo e outros conflitos que conheci (15)

“Ian Mackley, que tinha filhos em idade escolar, regressara ao Reino Unido para as férias da Páscoa. No fim de semana da Páscoa, a Fiona e eu levámos o Jamie e a Emily para a estância balnear de Ankobra, perto de Takoradi, a mais de quatro horas de carro de Accra. (...)
No domingo de Páscoa, estávamos a almoçar no restaurante de praia da estância quando avistei um uniforme azul-marinho com botões prateados. Apurando o olhar, vi Buckman, um motorista do Alto Comissariado, a vir na minha direção. Buckman era sempre alegre, mas agora parecia sombrio e eu senti-me aflito quando me levantei para o cumprimentar. Algo estava muito errado.

Quando me levantei da mesa, o Buckman disse ' Lamento, senhor' e entregou-me um bilhete. Dizia, muito resumidamente, que o meu pai tinha morrido. Contei a Fiona o que tinha acontecido. Parti com Buckman de volta a Accra, deixando Fiona a reunir as crianças, a fazer as malas e a regressar com Peter, o nosso motorista pessoal. Regressei a Londres na British Airways, saindo de Accra à meia-noite dessa noite, e apanhei um voo de ligação para Inverness. Ian Mackley tinha regressado a Accra no avião que me levou.

Cerca de um mês antes, tinha recebido uma chamada telefónica do meu pai para me dizer que os médicos lhe tinham dado apenas três meses de vida. O FCO pagava uma viagem de licença por ano de regresso a Londres, mas era possível obter uma viagem de cortesia para assistir ao funeral de um familiar direto. Escrevi-lhes a perguntar se me podiam conceder a viagem para ver o meu pai uma última vez, em vez de esperar que ele morresse. O FCO respondeu-me exigindo um atestado médico que provasse que o meu pai estava a morrer. O meu pai foi pedir esse atestado ao seu médico de clínica geral de Inverness, e o médico ficou furioso:

“Que raio! Confiam no Craig para representar os interesses do Reino Unido, e depois não confiam nele quando diz que o pai está a morrer! Acham que ele ia inventar uma coisa dessas! Estes burocratas estão mesmo doentes!” (...)
O meu pai tinha ficado em casa, mas com o aproximar do seu fim foi transferido para um hospício nas margens do rio Ness. Estava lá há apenas um dia quando sofreu um ataque cardíaco fulminante e teve morte imediata. Dado o sofrimento causado pelo cancro do pulmão, foi uma coisa boa, embora me tenha roubado a oportunidade de o ver uma última vez.”

Craig Murray, The Catholic Orangemen of Togo and Other Conflicts I Have Known (2008) –Atholl 2017, pp 213-215.


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