Os Orangemen católicos do Togo e outros conflitos que conheci (21)
"O telefone de Kwadwo não parava de tocar e, passado algum tempo, tornou-se claro que estava a receber uma série de telefonemas ameaçadores do Castelo, dando-lhe instruções para alterar o resultado. Kwadwo respondeu com muita calma: “O resultado será o que for. Estou apenas a certificar-me de que o resultado é contado de forma justa. Não tenho qualquer influência no resultado”. (...)
Depois, de repente, ao atender o seu enésimo telefonema, crispou-se. Chamou-me para junto dele para eu ouvir. Era a sua esposa. Os soldados tinham ido ao seu bungalow, tomando como reféns a mulher e os filhos de Kwadwo Afari Gyan. Estavam a ameaçar matá-los se ele não apresentasse o resultado “correto”. À medida que a pressão sobre ele aumentava durante a noite, o único sinal de stress que Kwadwo revelava era fumar cada vez mais depressa. Agora, ele gritava ao telefone:
“Passem-me o líder deles.”
Um soldado pegou rapidamente no telefone e começou a repetir o pedido a Kwadwo. Kwadwo interrompeu-o. É extremamente melindroso para os ganeses dizer palavrões, por isso editei o que Kwadwo disse:
“Ouve, pequeno *****. Acham que vocês, soldados, ainda podem dizer-nos o que fazer? Como se atrevem a vir a minha casa e ameaçar a minha esposa e os meus filhos? Estou aqui sentado com o Vice-Alto Comissário britânico e ele sabe o que se está a passar. Agora ponham-se a andar da minha casa antes que vos metamos na cadeia!”.
Houve um breve silêncio e depois o soldado disse “Sim, senhor, desculpe, senhor”. Kwadwo disse então à sua esposa chorosa que não se preocupasse e voltou calmamente ao seu trabalho, como se nada de mais tivesse acontecido."
Craig Murray, The Catholic Orangemen of Togo and Other Conflicts I Have Known (2008) –Atholl 2017, pp 241-242.
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