“Podia estar confiante nesse futuro porque Roosevelt era um eugenista sem pudor. Usou o púlpito do seu gabinete para insistir que as mulheres tinham o dever cívico de criar uma geração de crianças saudáveis e disciplinadas. Apoiou a eugenia pela primeira vez em 1903 e, dois anos depois, expôs as suas convicções num discurso perante o Congresso das Mães. Preocupado com o ‘suicídio da raça’, como ele disse, recomendou que as mulheres de origem anglo-americana tivessem de quatro a seis filhos, ‘o suficiente para que a raça aumentasse e não diminuísse’. O dever das mulheres de sofrerem ‘dores de parto’, e mesmo de enfrentarem a morte, fazia da mulher fértil o equivalente ao soldado profissional. As mulheres que se esquivavam ao seu dever de procriação eram piores do que desertores. Por isso, fez pressão para a aprovação de uma emenda constitucional em 1906 que colocaria o casamento e o divórcio sob o controlo da lei federal. Retirar as leis do casamento e do divórcio do controlo arbitrário dos estados servia um objetivo eugénico mais vasto. Todos os eugenistas convictos acreditavam que os cidadãos não tinham o direito individual de casar ou de se reproduzir. Como uma das principais organizações eugénicas referiu em 1914, ‘a sociedade deve considerar o germoplasma como pertencente à sociedade e não apenas ao indivíduo que o transporta’. Como as crianças produzidas por pais inaptos podiam custar aos contribuintes se se tornassem criminosos, a sociedade tinha o direito de se proteger. Muito mais perigoso era o custo para o património humano da nação se se permitisse que os degenerados se reproduzissem. Em 1913, Roosevelt escreveu ao eugenista Charles Davenport, que era um dever patriótico de todo o bom cidadão de estirpe superior deixar o seu ‘sangue para trás’. Os degenerados, advertiu ele, não devem ser autorizados a ‘reproduzir a sua espécie’.”
Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, pp 192-193. Trad. OLima 2024.
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