“A fertilidade desempenhava um papel igualmente importante na definição dos lugares das mulheres e dos homens na sociedade. A capacidade de procriação de uma mulher era um recurso natural calculável destinado a ser explorado e uma mercadoria trocada no casamento. Para as mulheres escravas, a capacidade fértil tornava o útero um artigo de comércio e as crianças escravas um bem móvel, como o gado. (A palavra ‘chattel’ vem da mesma raiz latina que ‘cattle’ [gado]. Os filhos de escravos eram de facto listados nos testamentos dos fazendeiros como ‘reprodutores’ e o potencial de procriação de uma escrava era referido como ‘futuro aumento’, um termo que também se aplicava ao gado.
No início do século da colonização, o filósofo inglês Francis Bacon observou em 1605 que as esposas serviam para ‘gerar, dar frutos e conforto’. Comparar o corpo de uma mulher a uma terra arável que produzia frutos fazia todo o sentido para os seus leitores. O ato de propagação e de produção abrangia tanto as crianças como os vitelos, igualmente valorizados como a geração de bons animais. A mulher e a terra eram para uso e benefício do homem.”
Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, p 41. Trad. OLima 2024.
Sem comentários:
Enviar um comentário