domingo, 1 de setembro de 2024

LEITURAS À MARGEM

White Trash - A história não contada de 400 anos de classes na América (8)



“A fertilidade desempenhava um papel igualmente importante na definição dos lugares das mulheres e dos homens na sociedade. A capacidade de procriação de uma mulher era um recurso natural calculável destinado a ser explorado e uma mercadoria trocada no casamento. Para as mulheres escravas, a capacidade fértil tornava o útero um artigo de comércio e as crianças escravas um bem móvel, como o gado. (A palavra ‘chattel’ vem da mesma raiz latina que ‘cattle’ [gado]. Os filhos de escravos eram de facto listados nos testamentos dos fazendeiros como ‘reprodutores’ e o potencial de procriação de uma escrava era referido como ‘futuro aumento’, um termo que também se aplicava ao gado.

No início do século da colonização, o filósofo inglês Francis Bacon observou em 1605 que as esposas serviam para ‘gerar, dar frutos e conforto’. Comparar o corpo de uma mulher a uma terra arável que produzia frutos fazia todo o sentido para os seus leitores. O ato de propagação e de produção abrangia tanto as crianças como os vitelos, igualmente valorizados como a geração de bons animais. A mulher e a terra eram para uso e benefício do homem.”

Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, p 41. Trad. OLima 2024.

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