Keith, 60 anos, é professor no departamento de ciências geofísicas da Universidade de Chicago, onde tem uma equipa dedicada à investigação da geoengenharia solar. Anteriormente, foi professor de física aplicada na Universidade de Harvard e, em 2009, foi incluído na lista de Heróis do Ambiente da revista Time.
A ideia da geoengenharia solar procura imitar o efeito das erupções vulcânicas, que lançam dióxido de enxofre para a atmosfera. Quando atinge a estratosfera, transforma-se em ácido sulfúrico e acumula-se para funcionar como um refletor. Segundo Jeff Goodell, no seu livro The Heat Will Kill You First: Life and Death on a Scorched Planet (2023), quando o vulcão Pinatubo entrou em erupção nas Filipinas em 1991, libertou 15 milhões de toneladas de ácido sulfúrico para a atmosfera e baixou as temperaturas na região em cerca de 1ºC durante um ano. A geoengenharia solar pretende recriar um efeito semelhante à escala planetária, utilizando aerossóis para emitir a mesma substância em todo o globo.
Keith é cuidadoso com as palavras quando fala do seu trabalho e não nega os riscos associados a este método experimental: "O ácido sulfúrico é um poluente atmosférico, provavelmente o mais importante em termos de impacto no ser humano. Mata milhões de pessoas por ano, pelo que é um risco óbvio. Há também o risco de danificar a camada de ozono".
Mas mesmo com estes perigos, o físico defende que os benefícios podem ser maiores. "Embora haja incertezas, existe um amplo consenso, mesmo entre os mais cépticos, de que os aerossóis estratosféricos reduziriam as temperaturas em todo o lado. E os benefícios da redução da temperatura são maiores, especialmente nos países mais quentes e para as pessoas mais pobres. Para mim, se há uma razão ética para levar esta tecnologia a sério, é essa".
O ambientalista David Suzuki considerou a libertação de ácido sulfúrico na atmosfera "arrogante e simplista". Para ele, a geoengenharia solar implica consequências ainda desconhecidas, bem como o perigo de o mundo adotar estas soluções em vez de cortes nas emissões, porque são mais convenientes para as indústrias poluentes. Keith, no entanto, é inflexível e afirma que não acredita que a geoengenharia solar seja um substituto para outros esforços ambientais.
Outra crítica à geoengenharia solar é a frequência com que os aerossóis teriam de ser aplicados, uma vez que o ácido sulfúrico só permanece na estratosfera durante cerca de dois anos. Para Keith, no entanto, isso é bom, porque os aerossóis podem ser aplicados gradualmente e, se os resultados não forem os esperados, podem ser interrompidos ou feitos ajustes. "É uma coisa boa. Se puséssemos ácido sulfúrico e ele ficasse lá para sempre e não o conseguíssemos remover, estaríamos a alterar permanentemente o clima", explica.
Para além da geoengenharia solar, o físico também tem trabalhado na tecnologia de remoção de carbono. Em 2009, Keith fundou a Carbon Engineering, uma empresa especializada num processo de remoção de dióxido de carbono da atmosfera, e algumas empresas petrolíferas começaram a utilizá-la para tentar reduzir a sua enorme pegada ambiental. Entre os investidores iniciais da Carbon Engineering encontrava-se a petrolífera Chevron. No ano passado, a empresa foi adquirida pela Occidental Petroleum, outra empresa petrolífera sediada no Texas que fez da extração de ar o seu principal projeto.
Keith já não tem qualquer ligação à Carbon Engineering e evita o assunto quando lhe perguntam se ainda "promove" a extração de carbono como uma alternativa viável para o ambiente. Diz que não se sentia confortável com a aquisição da empresa por uma petrolífera e que estava a considerar doar o dinheiro que recebeu a um grupo de conservação.
Armando Quesada Webb, El País.
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