“Os colonos eram um grupo heterogéneo. Na base da pirâmide estavam homens e mulheres das classes pobres e criminosas. Entre estes transplantados pouco heróicos encontravam-se salteadores de estrada, vagabundos malvados, rebeldes irlandeses, prostitutas conhecidas e uma série de condenados enviados para as colónias por roubo ou outros crimes contra a propriedade, como uma espécie de indulto, para escapar à forca. Não muito melhores eram os que preenchiam as fileiras dos servos contratados, que variavam em termos de classe, desde os humildes vagabundos de rua aos antigos artesãos sobrecarregados com enormes dívidas. Tinham-se arriscado a sua sorte nas colónias, tendo sido obrigados a servir e depois preferido o exílio a um possível encarceramento dentro das paredes de uma prisão inglesa sobrelotada e cheia de doenças. A escassez de mão de obra levou alguns capitães de navios e agentes a recolherem crianças das ruas de Londres e de outras cidades para as venderem aos plantadores do outro lado do oceano – chamava-se a isto "spiriting". As crianças pequenas eram despachadas por pequenos crimes. Um desses casos é o de Elizabeth "Little Bess" Armstrong, descartada para a Virgínia por ter roubado duas colheres. Um grande número de adultos pobres e de rapazes sem pai renunciaram à sua liberdade, vendendo-se como servos contratados, sendo a sua passagem paga em troca de um contrato de trabalho de quatro a nove anos. Os seus contratos podiam ser vendidos, e muitas vezes eram-no, à sua chegada. Impossibilitados de casar ou de escolher outro patrão, podiam ser castigados ou chicoteados à vontade. Devido às duras condições de trabalho que tinham de suportar, um crítico comparou a sua sorte à ‘escravatura egípcia’.”
Nancy Isenberg, White Trash – The 400-year untold history of class in America. Atlantic Books 2017, p 13. Trad. OLima 2024.
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