segunda-feira, 8 de julho de 2024

‘QUANDO PORTUGAL ARDEU’ 18


“Os sinos tocam a rebate e saem camionetas das aldeias.

Recorre-se à ‘dinamite das pedreiras’. Entre o povo há muitos homens com a guerra de África no sangue e, portanto, habilitados a manuseá-la. Arregimentam-se desilusões, a impaciência legítima de agricultores que não conseguem escoar vinho, azeite ou amêndoa.

O movimento gera subgrupos com nomes bélicos e patrióticos: são os Comandos Democráticos do Norte, as Brigadas Anti-Totalitárias e Os Viriatos. Este último integra, entre outros, o fadista João Braga, que irá sublimar, numa entrevista, a fogueira que devorou a revolução: ‘Incendiámos 317 sedes de partidos. Lembro-me de o jornal espanhol Ya ter escrito na capa «Portugal esta que arde!».’

Há ordens para não matar, mas são meras intenções. ‘Os comunistas ou saíam pela porta da frente com um pano branco hasteado num pau, como aconteceu em São João da Madeira, ou fugiam pela porta das traseiras’, dirá Paradela. (…)

Durante os meses quentes de 1975, MDLP, ELP e ‘Maria da Fonte’ constituem-se na santíssima trindade que mostra ao País a visão do inferno e o caminho da redenção patriótica. Os jornais e os telejornais percorrem – indignados uns, outros com júbilo contido – o cemitério fumegante de sedes, casas, automóveis, escritórios, livrarias identificadas com o inimigo ‘comunista’.”

Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, pp 152-154.
[Imagem: João Braga]

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