Padre Armando.
“Uma denominada Cruzada Renascida Anti-Comunista mobilizara retornados e caçadores. Nascera o COPRIO, versão adulterada e sarcástica do COPCON, do MFA, para consumo regional. ‘No fundo, eram grupos organizados que vigiavam os comunistas e outros cidadãos de esquerda. Também fui seguido e recebi ameaças pelo telefone. Disseram-me que era melhor sair de Rio Maior’, conta Arlindo Santos, militante n.º 1 do PS na terra. (…)
No altar, os sacerdotes ajudavam à missa. ‘Vêm aí os judeus!’, ouvia-se, entre o povo de Deus, quando se anunciava a presença de comunistas numa localidade. Mas nem todos pregavam o mesmo evangelho. O padre Armando, responsável máximo da Igreja no concelho desde 1968, colocara-se ao lado dos mineiros de Rio Maior, a maior ‘célula secreta’ do PCP em ditadura, na luta por melhores condições de trabalho. Em 1975, entre os crentes, houve quem, depois de escutar homilias transformadas em ‘comícios anticomunistas’, avisasse os militantes do partido daquilo que os esperava. Nesses meses, comunistas fugiram do concelho. Para a vida inteira. Outros renegaram a militância, em anúncio de jornal: ‘Eu, José Frazão Simões, vulgarmente conhecido por José da Moda, residente em Rio Maior, venho por este meio desmentir o boato posto a circular nesta vila de que sou filiado do Partido Comunista (…).’ Previdente, o PCP recorreu a grupos de karatecas até para colar cartazes. Por causa da inquietação e insegurança permanentes desse tempo, ‘há pessoas traumatizadas e a receber tratamento psiquiátrico’, garante Augusto Figueiredo, o autarca da Asseiceira."
Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, pp 127-128.
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