quarta-feira, 19 de junho de 2024

‘QUANDO PORTUGAL ARDEU’ 6

RTP

“John Morgan, tarimbado homem dos serviços de inteligência dos EUA, passara pelo Brasil e pelo Uruguai entre 1966 e 1973. No Rio de Janeiro, em plena ditadura militar, trabalhara com o conselheiro de assuntos políticos Frank Carlucci, que em janeiro de 1975 ocuparia o lugar de embaixador dos EUA em Lisboa. John Morgan defendia para Portugal a receita aplicada na América Latina, sobretudo no Chile, com outros temperos: uma campanha mediática contra a esquerda radical, o regresso de Spínola ao poder, a manutenção do País na NATO e a secessão dos Açores, estratégicos para os EUA, por causa da Base das Lajes. Fora naquele arquipélago que Spínola se encontrara, em junho de 1974, com o Presidente norte-americano Richard Nixon. O chefe de Estado português esteve acompanhado, entre outros, pelo conservador João Hall Themido. Antigo servidor do governo da ditadura no Ministério dos Negócios Estrangeiros – e, nessa condição, a par das atividades da Aginter Presse –, Themido mantinha-se no cargo de embaixador nos EUA graças a Mário Soares, titular daquela pasta, pouco interessado em afrontar Washington. Nem Themido nem Francisco Sá Carneiro, que também seguira na viagem, foram autorizados a participar na parte reservada da cimeira dos Açores. ‘Não fui fazer nada’, lamentou-se o ministro sem pasta e líder do PPD num almoço com Costa Gomes, no Hotel Tivoli. ‘«O general Spínola não quis que eu participasse na conferência.’ Do que lá se discutiu pouco transpirou, mas a permanência de Portugal na NATO e a situação de Angola, onde os americanos jogavam valiosa cartada geoestratégica, terão sido faladas.”

Miguel Carvalho, Quando Portugal ardeu (2017) – Oficina do Livro 2022, pp 71-72.

Sem comentários: