terça-feira, 2 de janeiro de 2024

BICO CALADO

  • A Palestina ainda é o problema. Documentário de John Pilger (2002) sobre as décadas de ocupação da Palestina e a subjugação do povo palestino. Numa série de entrevistas extraordinárias com palestinos e israelitas, John Pilger (9 outubro 1939 – 30 dezembro 2023) entrelaça a questão da Palestina. Ele fala às famílias dos homens-bomba e às suas vítimas; ele vê a humilhação dos palestinianos que lhes é imposta em inúmeros postos de controlo e com um sistema de licenças não muito diferente das infames leis de passes do apartheid na África do Sul. Ele vai aos campos de refugiados e encontra crianças que, diz ele, “já não sonham como as outras crianças, ou se sonham, é com a morte”. PS – O nome de John Pilger tem sido frequentemente referido no blogue Ambiente Ondas3. Para aceder, digitar ‘john pilger’ na janela superior esquerda do mesmo blogue.
  • Os herdeiros de fortunas e grandes empresas são pequenos ditadores que fazem birras públicas sempre que alguém do Governo se mostra inclinado a ser menos permissivo. Sabem que a birra e a agressividade compensam perante manifesta falta de autoridade e que podem contar com um discurso liberal hegemónico na comunicação social em matéria de economia política. João Rodrigues, Pequenos grandes ditadoressetenta e quatro.
  • Vai acabar a corrupção em Portugal: os lóbis vão ser reconhecidos e passar à legalidade. oxisdaquestão.
  • Mark Dawson, o rei de um milhão de dólares da autopublicação, acusado de plágio. Daniella Gaskell, Medium.

Foto: Roman M Wittig/Projeto Tai Chimpanzee/Reuters

  • A evocação do chimpanzé: comprei um bilhete e um cartucho de amendoins e entrei no cinema. tu compraste um bilhete e um cartucho de amendoins e entraste no cinema, sentámo-nos na mesma fila, lado a lado. eu abri o meu cartucho de amendoins, tu abriste o teu cartucho de amendoins, com um ruído exactamente igual ao meu. voltei-me para ti e mostrei os dentes. tu voltaste-te para mim e mostraste os dentes. Quando a luz apagou, tu pousaste o teu cartucho de a mendoins no colo e eu pousei o meu cartucho de amendoins no colo. com a mão direita comecei a levantar-te a saia. para me facilitar a tarefa, tu levantaste levemente as nádegas do assento. com esse gesto, caiu-te do colo o cartucho de amendoins. assim que os amendoins acabaram de se espalhar no chão, abaixei-me para tos apanhar, mas esqueci-me do meu cartucho de amendoins, o qual me caiu igualmente ao chão. gastei um tempo enorme a procurar e a recolher todos os amendoins. lembro-me de que passei o tempo quase todo até ao intervalo recolhendo amendoins. todo o tempo tu não deixaste de suspirar e de gemer, embora estivesse apenas a decorrer um documentário sobre o narciso e nenhum drama comovente. a voz do locutor lembro-me que dizia: «no começo da primavera, quando montes e vales acordam do longo sono de inverno, centenas e centenas de narcisos elevam as douradas cabeças em todas as frestas e abrigos do solo, e lançam seu olhar inocente pelos portentosos rochedos e pelas raízes nodosas da floresta. isto, como certamente te lembras, foi antes do intervalo. depois, quantas vezes, oh quantas vezes não deixaste cair e eu não deixei cair os amendoins que nos restavam. e ora eu, ora tu, de cada vez descíamos a procurá-los, e a colhê-los com suaves, ternos guinchos. o filme, no dizer da crítica, era daqueles que se não podem perder.” Alberto Pimenta. Via Alpendre da Lua.

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