República Democrática do Congo: recursos de cobre e cobalto nas mãos erradas?
- No seu recente
livro, Cobalt Red, Siddharth Kara escreve que muito do cobalto da República Democrática
do Congo (RDC) está sendo extraído pelos chamados mineiros
"artesanais" - trabalhadores autónomos que fazem trabalho
extremamente perigoso por apenas alguns dólares por dia. "As pessoas estão
trabalhando em condições subumanas, desgastantes e degradantes. Eles usam
picaretas e pás para cortar e vasculhar a terra em trincheiras, poços e túneis
para recolher cobalto.” Kara diz que a
indústria de mineração devastou a paisagem da RDC. Milhões de árvores foram abatidas,
o ar à volta das minas está nublado com poeira e areia e a água foi contaminada
com efluentes tóxicos do processo de mineração. Além do mais, diz, "o
cobalto é tóxico ao tato e na respiração - e há centenas de milhares de pobres
congoleses tocando e respirando dia após dia. Jovens mães com bebés amarrados
nas costas, todos respirando esse pó de cobalto tóxico." (…) Diz o autor do
livro: "A corrupção é grande parte do problema. É isso que permite que
muitos desses abusos persistam. O Congo é uma nação devastada pela guerra e
profundamente empobrecida que foi submetida durante gerações a saques desde o
tempo do comércio de escravos. E, quando grandes investidores estrangeiros chegam
acenando com grandes somas de dinheiro, não é preciso muita imaginação para ver
que há corrupção. (...) O primeiro presidente democraticamente eleito do Congo
[em 1960], Patrice Lumumba, prometeu que as imensas riquezas e recursos
minerais do país seriam usados em benefício das pessoas que lá vivem. Porém,
seis meses depois de eleito, foi deposto, assassinado, esquartejado, dissolvido
em ácido e substituído por um ditador sanguinário, um ditador corrupto que
manteria os minerais fluindo na direção certa. Patrice Lumumba mostrou qual é o
resultado, o que vai acontecer. E acho que também faz parte dessa lição que
precisamos entender historicamente, quando falamos de coisas como corrupção. (...) A China
conquistou o mercado global de cobalto antes que alguém soubesse o que estava
acontecendo. Isso aconteceu em 2009 sob o presidente anterior do Congo, Joseph
Kabila. Ele assinou um acordo com o governo chinês para acesso a concessões de
mineração em troca de assistência ao desenvolvimento, um compromisso de
construir estradas e algumas clínicas de saúde pública, escolas e hospitais.
Antes que alguém soubesse o que estava aacontecer, as empresas chinesas tinham-se
apropriado de 15 das 19 principais concessões industriais de mineração de
cobre-cobalto do país. Agora eles dominam não só a mineração no solo mas também a cadeia
de produção até ao nível da bateria. Eles têm cerca de 70, 80% do mercado de
cobalto refinado e provavelmente metade do mercado de baterias.”» Terry Gross, NPR. A NPR, rádio pública
norte-americana, congénere da portuguesa RDP, publica isto porque é a China que
explora estas minas. Fosse uma mineira dos EUA ou do Canadá a fazer o mesmo no
Congo e eles nada diriam porque seria absolutamente normal. Como é a China, há
que denunciar. E acusam a China de ter feito o negócio pela calada, como se não
soubéssemos que este tipo de negócios se fazem assim, pela calada, segundo as boas
regras do bom capitalismo. A NPR apenas se esqueceu ou não quis dizer que Patrice
Lumumba, eleito democraticamente em 1960, queria nacionalizar as minas e, por
isso, foi deposto e assassinado por agentes secretos a soldo dos EUA e da Bélgica. Segundo investigações
feitas pelo Congresso dos EUA, a CIA teria recebido um pedido do
presidente Eisenhower para assassinar Lumumba devido às suas inclinações pró-soviéticas.
- Os lucros da ExxonMobil registaram um aumento de 142% em
2022. Escrevendo para a Reuters, a copresidente do Clube de Roma, Sandrine
Dixson-Declève, questiona as enormes quantias de dinheiro que estão sendo
ganhas pelas grandes petrolíferas, uma vez que lucram imenso com a guerra na
Ucrânia e a crise energética. Ela sublinha que “os ricos ‒ indivíduos e grandes
corporações ‒ raramente tiveram uma vida tão boa, enquanto a pobreza extrema
aumentou pela primeira vez em 25 anos”. As empresas de petróleo e gás são
“talvez o exemplo mais flagrante de nosso mundo de cabeça para baixo”, continua
Dixson-Declève: “Apesar de serem responsáveis pela maioria das emissões que
causam alterações climáticas, elas continuam obtendo lucros cada vez maiores. ”
Como solução, propõe um imposto progressivo sobre os indivíduos e corporações
mais ricos, bem como impostos inesperados sobre as empresas de combustíveis
fósseis. Por outro lado, um editorial do Wall Street Journal critica
o presidente dos EUA, Joe Biden, que “fez mais para enriquecer as gigantes
petrolíferas e seus acionistas do que Donald Trump ou qualquer outro ocupante
da Casa Branca em décadas”. À luz dos lucros recordes da ExxonMobil, o jornal
diz que “as grandes empresas de petróleo estão apenas beneficiando da escassez
de fornecimentos e das restrições de produção que o governo ajudou a criar”. Fontes:
Reuters e Wall Street Journal.
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