quinta-feira, 2 de fevereiro de 2023

República Democrática do Congo: recursos de cobre e cobalto nas mãos erradas?

  • No seu recente livro, Cobalt Red, Siddharth Kara escreve que muito do cobalto da República Democrática do Congo (RDC) está sendo extraído pelos chamados mineiros "artesanais" - trabalhadores autónomos que fazem trabalho extremamente perigoso por apenas alguns dólares por dia. "As pessoas estão trabalhando em condições subumanas, desgastantes e degradantes. Eles usam picaretas e pás para cortar e vasculhar a terra em trincheiras, poços e túneis para recolher cobalto.” Kara diz que a indústria de mineração devastou a paisagem da RDC. Milhões de árvores foram abatidas, o ar à volta das minas está nublado com poeira e areia e a água foi contaminada com efluentes tóxicos do processo de mineração. Além do mais, diz, "o cobalto é tóxico ao tato e na respiração - e há centenas de milhares de pobres congoleses tocando e respirando dia após dia. Jovens mães com bebés amarrados nas costas, todos respirando esse pó de cobalto tóxico." (…) Diz o autor do livro: "A corrupção é grande parte do problema. É isso que permite que muitos desses abusos persistam. O Congo é uma nação devastada pela guerra e profundamente empobrecida que foi submetida durante gerações a saques desde o tempo do comércio de escravos. E, quando grandes investidores estrangeiros chegam acenando com grandes somas de dinheiro, não é preciso muita imaginação para ver que há corrupção. (...) O primeiro presidente democraticamente eleito do Congo [em 1960], Patrice Lumumba, prometeu que as imensas riquezas e recursos minerais do país seriam usados ​​em benefício das pessoas que lá vivem. Porém, seis meses depois de eleito, foi deposto, assassinado, esquartejado, dissolvido em ácido e substituído por um ditador sanguinário, um ditador corrupto que manteria os minerais fluindo na direção certa. Patrice Lumumba mostrou qual é o resultado, o que vai acontecer. E acho que também faz parte dessa lição que precisamos entender historicamente, quando falamos de coisas como corrupção. (...) A China conquistou o mercado global de cobalto antes que alguém soubesse o que estava acontecendo. Isso aconteceu em 2009 sob o presidente anterior do Congo, Joseph Kabila. Ele assinou um acordo com o governo chinês para acesso a concessões de mineração em troca de assistência ao desenvolvimento, um compromisso de construir estradas e algumas clínicas de saúde pública, escolas e hospitais. Antes que alguém soubesse o que estava aacontecer, as empresas chinesas tinham-se apropriado de 15 das 19 principais concessões industriais de mineração de cobre-cobalto do país. Agora eles dominam  não só a mineração no solo mas também a cadeia de produção até ao nível da bateria. Eles têm cerca de 70, 80% do mercado de cobalto refinado e provavelmente metade do mercado de baterias.”» Terry Gross, NPRA NPR, rádio pública norte-americana, congénere da portuguesa RDP, publica isto porque é a China que explora estas minas. Fosse uma mineira dos EUA ou do Canadá a fazer o mesmo no Congo e eles nada diriam porque seria absolutamente normal. Como é a China, há que denunciar. E acusam a China de ter feito o negócio pela calada, como se não soubéssemos que este tipo de negócios se fazem assim, pela calada, segundo as boas regras do bom capitalismo. A NPR apenas se esqueceu ou não quis dizer que Patrice Lumumba, eleito democraticamente em 1960, queria nacionalizar as minas e, por isso, foi deposto e assassinado por agentes secretos a soldo dos EUA e da BélgicaSegundo investigações feitas pelo Congresso dos EUA, a CIA teria recebido um pedido do presidente Eisenhower para assassinar Lumumba devido às suas inclinações pró-soviéticas.  
  • Os lucros da ExxonMobil registaram um aumento de 142% em 2022. Escrevendo para a Reuters, a copresidente do Clube de Roma, Sandrine Dixson-Declève, questiona as enormes quantias de dinheiro que estão sendo ganhas pelas grandes petrolíferas, uma vez que lucram imenso com a guerra na Ucrânia e a crise energética. Ela sublinha que “os ricos ‒ indivíduos e grandes corporações ‒ raramente tiveram uma vida tão boa, enquanto a pobreza extrema aumentou pela primeira vez em 25 anos”. As empresas de petróleo e gás são “talvez o exemplo mais flagrante de nosso mundo de cabeça para baixo”, continua Dixson-Declève: “Apesar de serem responsáveis pela maioria das emissões que causam alterações climáticas, elas continuam obtendo lucros cada vez maiores. ” Como solução, propõe um imposto progressivo sobre os indivíduos e corporações mais ricos, bem como impostos inesperados sobre as empresas de combustíveis fósseis. Por outro lado, um editorial do Wall Street Journal critica o presidente dos EUA, Joe Biden, que “fez mais para enriquecer as gigantes petrolíferas e seus acionistas do que Donald Trump ou qualquer outro ocupante da Casa Branca em décadas”. À luz dos lucros recordes da ExxonMobil, o jornal diz que “as grandes empresas de petróleo estão apenas beneficiando da escassez de fornecimentos e das restrições de produção que o governo ajudou a criar”. Fontes: Reuters e Wall Street Journal.

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