terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Bico calado

  • Tribunal acusa von der Leyen de omitir negociações pessoais com CEO da Pfizer que levaram a contrato de 1,8 mil milhões de doses. Uma das alegações de von der Leyen é de que apagou as mensagens trocadas. Em 2020, enquanto governante alemã, também se apurou que tinha eliminado mensagens telefónicas aquando de uma investigação sobre contratos ilegais na alçada do seu ministério. Nuno Machado, The BlindSpot.
  • «(…) Quando os sindicados foram criados, no século XIX, a primeira associação solidária dos trabalhadores, a AIT, constitui fundos de greve não só entre quem ganha mais para os que ganham menos, como o fez entre países - os operários ingleses pagavam aos operários polacos para fazerem greve e assim aumentavam o salário dos polacos que não seriam obrigados a emigrar e pressionar o salário dos ingleses para baixo.  Assisti, há 7 anos, a uma conferência de estivadores em que os suecos pagaram o fundo de greve dos nigerianos, para os impedir de embarcar navios na Nigéria para a Suécia onde os empregadores ameaçam despedir os estivadores suecos. Com poucos custos para si, suecos e nigerianos paravam a cadeia produtiva. (...) Hoje - no dia que escrevo - nos EUA a Associação de Professores tem um fundo de greve de financiamento público online não só entre sectores da educação, mas aberto ao público. Como têm os ferroviários ingleses, que pedem, com opção de pagamento Qcode ou credit card, à população que os ajude a - cito - parar a produção. No Partido de Méllenchon há um fundo de greve do partido na página online para ajudar "todos os franceses a fazer greve". Coisa que tinham ferreiros, tabaqueiros, operárias têxteis no século XIX em Portugal - havia mesmo nos jornais, até no velhinho Diário de Notícias, subscrição pública para a população doar para o fundo de greve - então chamado caixa de resistência. Por falar em jornais, em Portugal já houve uma greve de solidariedade nos jornais - Agosto de 74 - a favor dos funcionários de um único jornal, o Jornal de Comércio com um concerto no Coliseu para recolher fundos. (...) Não há nada de novo nesta greve e neste fundo de greve, a não ser algum, por vezes muito, desconhecimento da história e da realidade laboral do mundo.» Raquel Varela. 

«O governo Conservador empregou magistralmente a linguagem da reforma, que mais uma vez continha fios de verdade entrelaçados num cesto de mentiras. As "Novas Aldeias" de Templer, que eram apenas zonas de reinstalação geridas com brutalidade, eram o epítome da capacidade do imperialismo liberal de transfonnar populações sujeitadas, pelo menos no que diz respeito ao governo britânico. Por detrás das filas duplas de arame farpado eletrificado, os comunistas e os seus apoiantes estavam ostensivamente a ser "reabilitados" em homens e mulheres modernos. Na Primavera de 1953, Lyttleton foi efusivo no Parlamento quando discutiu as Novas Aldeias e as medidas de pioneiras e de longo alcance de Templer durante a guerra colonial: "Já há algum tempo que há comités de aldeia, mas estes estão agora a ser substituídos por conselhos locais eleitos com poderes para financiar e gerir serviços locais. Foram providenciados escolas e assembleias comunitários. Em cada aldeia estão a ser criadas unidades da Guarda a partir de voluntários. Cursos cívicos são frequentados por líderes da aldeia; estimula-se  o desporto e outras actividades locais. ... Tenho o prazer de dizer que na grande maioria das novas aldeias, o sentimento e a lealdade da comunidade estão a crescer e a verdadeira cooperação com o Governo é manifesta". Uma outra palavra de ordem imperialista liberal ganhou tração - 'desenvolvimento comunitário'. Segundo relatórios oficiais, a Malásia estava repleta das instituições e serviços há muito ausentes da península devastada pela guerra. (…) Este feito notável deveu-se em grande parte à máquina de propaganda britânica, tanto em casa como na Malásia. O governo gastou cerca de 5 milhões de dólares por ano com os "serviços de informação" da Federação e Templer encetou uma ofensiva pessoal de charme com os americanos. Depois de receber o vice-presidente Richard Nixon e de o informar sobre os métodos britânicos de contrainsurgência de grande alcance, o general recebeu uma carta de Dwight Eisenhower. "Quero felicitá-lo pela liderança inspiradora que proporcionou", escreveu o presidente (...).» Caroline Elkins, Legacy of Violence – a History of the British Empire. The Bodley Head/Penguin 2022, pp 534-535.

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