sábado, 31 de dezembro de 2022

Bico calado

  • «(...) Cerca de 5 meses depois, o mesmíssimo governo de António Costa designa a felizarda senhora protagonista de toda esta história como Secretária de Estado do Tesouro, entidade que tutela, do ponto de vista financeiro, a empresa de onde saíra 9 meses antes! Tudo isto sem que então governantes, dirigentes políticos e, já agora, jornalistas vissem neste autêntico carrossel de cargos qualquer questão digna de registo, e isto mesmo que ainda não se soubesse que, com a dita saída da TAP, Alexandra Reis embolsara meio milhão de euros. (...) É assim para mim absolutamente óbvio que: 1º Alexandra Reis rigorosamente nada deveria receber a título da citada “compensação” (devendo mesmo ser intimada a devolvê-la, e de imediato). 2º Deveria ser muito claro o destino de Madame Christine:tendo sido uma das responsáveis pela situação e havendo uma vez mais faltado à verdade, e ainda por cima depois de todas as demais situações obscuras em que tem estado envolvida – desde a da contratação de gestores de topo para a TAP, milionariamente pagos, à da renovação da frota automóvel (só a dos mesmos gestores de topo, claro…), passando pela do negócio da mudança de instalações, tudo sempre envolvido na maior das opacidades –, a CEO deveria ser de imediato demitida,  com mais que justa causa! 3º Idêntico caminho deveriam seguir os dois ministros da tutela: ou sabiam o que se passava e não só foram criminosamente cúmplices com tudo isso como até deram consciente e intencionalmente a Alexandra Reis os “prémios” da Presidência da NAV e do cargo governamental, ou não sabiam, e sendo absolutamente claro que deveriam saber, a sua gritante incompetência e irresponsabilidade são igualmente criminosas. 4º Estando em causa uma empresa do sector empresarial do Estado e a enorme massa de dinheiros públicos nela investidos, os basilares princípios da transparência, da fiscalização e do estrito controlo na respectiva aplicação, impostos por disposição imperativa da lei que não pode ser afastada por despacho ou cláusula contratual alguma, deve-se impor a realização imediata de uma rigorosa auditoria a todos os contratos, acordos e compromissos (de trabalho, de prestação de serviços, ACMI, leasing, renting, etc.) celebrados, pelo menos nos últimos 5 anos, por cada uma das empresas do grupo TAP, com divulgação do respectivo teor, da sua justificação e da indicação discriminada dos custos que cada um deles representa para a empresa. (...)» António Garcia Pereira, Os negócios da TAP – a náusea… NotíciasOnline.
  • Joias de ponta, hipnotismo e marketing multinível não são qualificações tipicamente associadas à diplomacia internacional. Mas estas qualificações são destacadas no currículo da nova embaixadora da Ucrânia na Bulgária, Olesya IlashchukALEXANDER RUBINSTEIN, The Grayzone.

  • «(…) George Orwell, um fino observador das perversões que transformam sociedades abertas em sociedades totalitárias, considerou que os indivíduos são sujeitos a um persistente trabalho de sedução para que abdiquem do seu direito de pensar. No Ocidente, esse trabalho de sapa está a ser efetuado por pastores evangélicos, movimentos restauracionistas, e grandes cadeias de informação. Os discursos no espaço público têm por finalidade a supressão da dissidência, a imposição do pensamento único ao “não há alternativa” (TINA), ou mesmo “os outros ainda são piores.” A função dos comentadores, mesmo quando apresentados como “fontes especializadas”, é anular a argumentação apesar de acompanhada de evidências contrárias. O caso recente de maior sucesso na supressão da contra-argumentação como arma do poder foi o das “armas de destruição em massa” que e Bush Jr jurou existirem no Iraque. Temos agora o caso da Ucrânia como exemplo da supressão da crítica e da diferença. Essas “ferramentas de consciência de massa”, como os especialistas em comunicação as definem, permitem controlar as opiniões públicas e levá-las a acreditar e também a ignorar, orientando a atenção para o imaginário e a cegarem perante a realidade. (...) O conflito na Ucrânia trouxe para a atualidade a utilização num grau sem precedentes da técnica da “negação e engano”. Os Estados Unidos estavam decididos a sangrar a Rússia e pagaram a nada menos que 150 empresas de relações públicas para convencer os líderes europeus e os seus crentes da possibilidade de sucesso. A estratégia funcionou no mesmo registo do “Ministério da Verdade” do livro «1984», de George Orwell, tendo por base o objetivo de conseguir “a unidade mental das multidões” que o professor belga Mattias Desmet, da Universidade de Ghent, descreveu em «The Psychology of Totalitarianism». Descobri Mattias Desmet através de citações suas em obras sobre Hannah Arendt e Gustave Le Bon. Mattias Desmet proporcionou-me uma explicação para o nazismo e o fascismo diferente das que assentam nas condições materiais e nas etapas da História. Situou na psicologia de massas a origem do pensamento totalitário e as razões de adesão ao totalitarismo que estão na moda. Aborda os novos movimentos que emergem em Portugal, Espanha, França, Itália, na Bélgica e na Holanda, na Áustria tendo como pano de fundo a psicologia da negação em massa de realidades evidentes. Identificou os “mecanismos psicológicos primitivos” para que uma narrativa evolua para uma insidiosa “formação em massa” que destrói a consciência ética dos indivíduos e anula a capacidade de pensar criticamente. A condição primária para conseguir esta anulação dos indivíduos é que haja um segmento da população sem vínculos comunitários ou sem objetivos para as suas vidas, um segmento que sofra de “ansiedade e descontentamento flutuantes”, pois são estes segmentos que estão disponíveis para a agressividade com o sentimento de que “o sistema está manipulado” contra eles (repare-se na repetição do discurso após as eleições de Trump e de Bolsonaro), ou o grito “Vergonha” berrado repetidamente por Ventura. Os militantes destas organizações correspondem ao lumpenproletariat e às classes médias em perda de status que serviram de base ao nazismo. Multidões de jovens sem futuro e sem esperança, independentemente das suas habilitações, são a matéria-prima para promover uma sociedade totalitária. Recusar essa submissão acrítica é defender a Liberdade. Estas organizações, com a lógica das seitas e dos gangues, não dispõem de um programa político a não ser a intolerância e o ódio aos que se querem livres para pensar, mas são atrativos porque o vazio de ideias traduzido em frases fortes parecem oferecer esperança a seres desamparados e disfuncionais. Na Europa, o Chega, o Vox, o FN, os Fratelli d’Italia, no Brasil os bolsonaristas e nos EUA os trumpistas repetem as mesmas artimanhas dos seus avós nazis e fascistas. O líder é o pastor de um aglomerado de carneiros ao qual se misturam alguns lobos esfomeados de poder. A negação da realidade que foi instituída como doutrina pelo Ocidente conduziu a este triste resultado. Há que ser dissidente para defender a Liberdade.» Carlos Matos Gomes, A superação da dissidência, a desobediência e o regresso dos velhos totalitarismos Medium.
  • Numa entrevista à Columbia Journalism Review, a direção admitiu que os repórteres do Washington Post são pressionados a produzir quase quatro vezes mais histórias do que os seus colegas do The New York Times. Além disso, o Post escreve e reescreve a mesma história mas de ângulos ligeiramente diferentes e com títulos diferentes a fim de gerar mais cliques, e assim mais receitas. Graças às novas tecnologias, os repórteres são monitorizados a cada toque de tecla e estão sob constante pressão da direção para não ficarem para trás. A técnica de vigilância constante não é diferente do que têm de suportar os trabalhadores dos armazéns da Amazon hiper-explorados que usam dispositivos GPS ou relógios Fitbit. ALAN MACLEOD, With Bezos at the helm, Democracy Dies at the Washington Post editorial board - MPN.

  • «(…) Há, é evidente, uma questão ética (falta de) na transumância da administradora da TAP, a engenheira Alexandra Reis. Ou ela quer ser quadro de topo de empresas privadas, ou ela quer uma carreira na administração pública. A lógica das empresas privadas é a do lucro, a das empresas públicas é (devia ser) a do serviço à sociedade. Mas ela pertence à geração do saque neoliberal, que foi educada a considerar os valores éticos questões para idiotas e perdedores. Ela foi educada a ver médicos a garantir uma base financeira segura como funcionários públicos nos hospitais do SNS e a aproveitarem todas os interstícios da lei para fazerem o seu chorudo pé-de-meia na medicina privada. Ela entende as empresas públicas como o chefe da ordem dos médicos e o chefe do sindicato entendem o Serviço Nacional de Saúde: um local de poiso de curta duração antes do voo para outras atividades mais lucrativas, ou dos jornalistas e comentadores avençados que passam das estações públicas para as privadas e regressam ao público para a administração de uma entidade reguladora, ou um gabinete do governo. (...) O objetivo intermédio desta campanha era o ministro das obras públicas, Pedro Nuno Santos (o final é o derrube deste governo). Nuno Santos morreu atropelado por um comboio de 12,5 mil milhões que pretende recolher matéria-prima de três minas: O novo aeroporto de Lisboa — as mais poderosas empresas de construção necessitam de um ministro por conta. Segundo estimativas publicadas são 5 mil milhões para um aeroporto novo (Alcochete), ou 1,15 mil milhões para a solução Montijo+Lisboa; A TAP. Ao contrário do que as empresas de lobbying têm feito crer a TAP possui ativos de grande valor: as rotas para África e para a América do Sul (Brasil e Venezuela) e desperta o interesse de vários grupos de aviação. Quanto mais desvalorizada estiver a TAP mais barata será para a Iberia/Air France/ Lufthansa/ British Airways./KLM. O Estado já lá injetou 3,2 mil milhões e os potenciais compradores querem uma pechincha! - O TGV — quem irá construir as infraestruturas do TGV, quem irá fornecer o material circulante? O custo do projeto TGV tem sido apresentado como sendo da ordem dos 4,5 mil milhões. (...)» Carlos Matos Gomes, A administradora da TAP e a anedota do jacaré - Medium.

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