quinta-feira, 3 de março de 2022

Bico calado

"Quando a guerra eclodiu em 1939, o governo britânico viu-se confrontado com um problema gigantesco e imediato: o que fazer com os 73.000 alemães e austríacos que viviam na Grã-Bretanha e que se tinham tornado "estrangeiros inimigos" do dia para a noite. A resposta foi o confinamento em massa, uma política autorizada por Churchill poucos dias depois da sua tomada de posse como primeiro-ministro, em maio de 1940. A polícia de todo o país foi enviada para prender cidadãos do sexo masculino de países do Eixo - que em breve incluiriam a Itália - com idades compreendidas entre os 16 e os 60 anos e levá-los para a prisão. Alguns destes reclusos seriam enviados em viagens perigosas para o Canadá e Austrália, mas a maioria era levada para campos na Ilha de Man. (…)

A política de detenção em massa de civis sem julgamento representa um capítulo negro na guerra britânica. Cresceu a partir do medo, alimentado pela imprensa, de que os "quinto colunistas" tivessem sido enviados para se infiltrarem no país de modo a minarem as defesas britânicas contra uma eventual invasão alemã. Só em agosto Churchill compreendeu que a ameaça era exagerada, mas nessa altura as detenções tinham sido feitas, e muitos dos reclusos, que incluíam mulheres e crianças, não seriam libertados durante anos. O aspeto mais vergonhoso do confinamento foi o facto de ter apanhado sobretudo refugiados judeus que tinham fugido para a Grã-Bretanha para escapar ao terror das tropas de Hitler. (....) o confinamento foi uma experiência sombria para a maioria, e embora a Grã-Bretanha tenha visto isto como uma vergonha, o governo britânico nunca pediu desculpas formais. (…)»

Charlie English, The Island of Extraordinary Captives by Simon Parkin review – light amid darkness - The Guardian26fev2022.

Sem comentários: