terça-feira, 15 de fevereiro de 2022

Reflexão - «Evocação à chuva»

«Suspiramos pela chuva, contra a dura seca que tem assolado o país. Creio que ela virá. Hoje, ainda. Querida chuva, água nascente de vida, sémen e semente dos campos, alegria da terra – eu te saúdo, tal como Álvaro de Campos saudou o progresso das máquinas na sua Ode Triunfal. Não tenho talento à altura para te cantar como mereces, ó chuva. Mas retenho em mim a húmida respiração da tua presença em toda a pele do meu corpo. Tenho-te nos olhos, através dos vidros que te vêem cair lá fora; e creio em ti, chuva, com esta fé que se renova para merecer a tua existência. Volto a acreditar na ordem que nos vem do universo, na energia certa da vida, ainda mais forte que o mero instinto da sobrevivência. Apetece-me inventar um deus para a chuva, um outro para a natureza criadora da vida e um último para a celebração da alegria. Ou seja, o deus da felicidade pela água.»

João de Melo, EVOCAÇÃO À CHUVA.

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