«Suspiramos pela chuva, contra a dura seca que tem
assolado o país. Creio que ela virá. Hoje, ainda. Querida chuva, água nascente
de vida, sémen e semente dos campos, alegria da terra – eu te saúdo, tal como
Álvaro de Campos saudou o progresso das máquinas na sua Ode Triunfal. Não tenho
talento à altura para te cantar como mereces, ó chuva. Mas retenho em mim a
húmida respiração da tua presença em toda a pele do meu corpo. Tenho-te nos
olhos, através dos vidros que te vêem cair lá fora; e creio em ti, chuva, com
esta fé que se renova para merecer a tua existência. Volto a acreditar na ordem
que nos vem do universo, na energia certa da vida, ainda mais forte que o mero
instinto da sobrevivência. Apetece-me inventar um deus para a chuva, um outro
para a natureza criadora da vida e um último para a celebração da alegria. Ou
seja, o deus da felicidade pela água.»
João de Melo, EVOCAÇÃO À CHUVA.
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