Bico calado
- A Comissão Europeia não sabe se o antigo comissário
irlandês do comércio, Phil Hogan, a informou antecipadamente do seu novo trabalho - um
escritório de advocacia de lóbi em Bruxelas. Os principais interesses da firma
na UE incluem as mesmas áreas em que Hogan se especializou como comissário -
desde o comércio a políticas energéticas. Nikolaj Nielsen, EU Observer.
- «(…) Durante toda a campanha o bulldozer de Costa
continuará a acelerar sob a bandeira do PRR. O primeiro-ministro mostra assim
que sentiu um chamamento, que determinou que a chuva de milhões será a sua
herança política. E os autarcas socialistas, que são das primeiras vítimas do
estratagema, estão entusiasmados e repetem a mensagem como podem, uma ponte
aqui, uma maternidade ali, olhos a brilhar com os milhões que dão para tudo.
Nem sentem que as eleições autárquicas estão a ser sepultadas por este
vendaval, mirrou o espaço para apresentarem o trabalho feito, nem sobra para as
suas propostas, nem para discutirem a vida do seu município. Transformaram-se
em paus mandados destes anúncios deslumbrantes e deixaram de ter personalidade,
ideias e campanha, limitam-se agora a serem arautos da boa nova milionária.
Deste modo, o PS orgulha-se agora de se apresentar como partido-Estado, como a
união nacional dos poderes político e económico. Isto já existiu no Portugal
contemporâneo, chamou-se cavaquismo e voltou agora. Talvez alguém se lembre de
como acabou, porque acaba sempre por acabar.» Francisco Louçã, E se, de repente, alguém lhe oferece milhões? - Expresso
Diário, 21set2021.
- "A Tasmânia é uma ilha do tamanho da Irlanda e
situa-se a sudeste do continente australiano. Os primeiros colonos - vinte e
quatro prisioneiros, oito soldados, e uma dúzia de voluntários, seis dos quais
mulheres - chegaram em 1803. No ano seguinte, ocorreu o primeiro massacre dos
nativos. Os "bushrangers", prisioneiros fugitivos, tinham a mão livre
para abater cangurus e nativos. Levaram as suas mulheres. Atiraram corpos de nativos
aos cães ou assaram-nos vivos. Um homem chamado Carrots tornou-se famoso por ter
assassinado um tasmaniano; depois forçou a mulher do homem a carregar a cabeça
do seu falecido marido pendurada ao pescoço. Os nativos não tinham de ser
tratados como humanos, eles eram "brutos" ou "bestas brutas". Na década de 1820, a imigração branca aumentou e com isso
a pressão sobre o sustento dos nativos. À medida que passavam fome, começaram a
roubar aos brancos, que lhes montaram armadilhas e os alvejaram a partir das
copas das árvores. Os tasmanianos responderam atacando colonos isolados. O
líder dos nativos foi capturado e executado por homicídio em 1825. A Van Diemens Land Company exterminou os cangurus e
trouxe ovelhas para meio milhão de acres. A população branca duplicava de cinco
em cinco anos. A imprensa local exigia cada vez mais alto que o governo "deslocalizasse"
os nativos. Caso contrário, eles deveriam ser "caçados como animais
selvagens e destruídos". Foi isso que aconteceu. Em 1827, The Times (Londres)
relatava que sessenta Tasmanians tinham sido mortos em vingança pelo
assassinato de um colonizador; noutra ocasião, setenta Tasmanians perderam as
suas vidas. A violência aumentou até que os colonos também tiraram mulheres e
crianças das suas cavernas, "arrancando-lhes os miolos". Em 1829, o governo decidiu concentrar os nativos numa
área infértil na costa ocidental. Prisioneiros foram enviados para os caçar,
recebendo cinco libras por cada nativo que traziam consigo para o campo de
concentração. Estima-se que nove tasmanianos morreram por cada um que chegou
vivo.» Sven Lindquist, Exterminate all the Brutes (1992) – Granta 1996, pp118-119.
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