quarta-feira, 22 de setembro de 2021

Bico calado

  • A Comissão Europeia não sabe se o antigo comissário irlandês do comércio, Phil Hogan, a informou antecipadamente do seu novo trabalho - um escritório de advocacia de lóbi em Bruxelas. Os principais interesses da firma na UE incluem as mesmas áreas em que Hogan se especializou como comissário - desde o comércio a políticas energéticas. Nikolaj Nielsen, EU Observer.
  • «(…) Durante toda a campanha o bulldozer de Costa continuará a acelerar sob a bandeira do PRR. O primeiro-ministro mostra assim que sentiu um chamamento, que determinou que a chuva de milhões será a sua herança política. E os autarcas socialistas, que são das primeiras vítimas do estratagema, estão entusiasmados e repetem a mensagem como podem, uma ponte aqui, uma maternidade ali, olhos a brilhar com os milhões que dão para tudo. Nem sentem que as eleições autárquicas estão a ser sepultadas por este vendaval, mirrou o espaço para apresentarem o trabalho feito, nem sobra para as suas propostas, nem para discutirem a vida do seu município. Transformaram-se em paus mandados destes anúncios deslumbrantes e deixaram de ter personalidade, ideias e campanha, limitam-se agora a serem arautos da boa nova milionária. Deste modo, o PS orgulha-se agora de se apresentar como partido-Estado, como a união nacional dos poderes político e económico. Isto já existiu no Portugal contemporâneo, chamou-se cavaquismo e voltou agora. Talvez alguém se lembre de como acabou, porque acaba sempre por acabar.» Francisco Louçã, E se, de repente, alguém lhe oferece milhões? - Expresso Diário, 21set2021.
  • "A Tasmânia é uma ilha do tamanho da Irlanda e situa-se a sudeste do continente australiano. Os primeiros colonos - vinte e quatro prisioneiros, oito soldados, e uma dúzia de voluntários, seis dos quais mulheres - chegaram em 1803. No ano seguinte, ocorreu o primeiro massacre dos nativos. Os "bushrangers", prisioneiros fugitivos, tinham a mão livre para abater cangurus e nativos. Levaram as suas mulheres. Atiraram corpos de nativos aos cães ou assaram-nos vivos. Um homem chamado Carrots tornou-se famoso por ter assassinado um tasmaniano; depois forçou a mulher do homem a carregar a cabeça do seu falecido marido pendurada ao pescoço. Os nativos não tinham de ser tratados como humanos, eles eram "brutos" ou "bestas brutas". Na década de 1820, a imigração branca aumentou e com isso a pressão sobre o sustento dos nativos. À medida que passavam fome, começaram a roubar aos brancos, que lhes montaram armadilhas e os alvejaram a partir das copas das árvores. Os tasmanianos responderam atacando colonos isolados. O líder dos nativos foi capturado e executado por homicídio em 1825. A Van Diemens Land Company exterminou os cangurus e trouxe ovelhas para meio milhão de acres. A população branca duplicava de cinco em cinco anos. A imprensa local exigia cada vez mais alto que o governo "deslocalizasse" os nativos. Caso contrário, eles deveriam ser "caçados como animais selvagens e destruídos". Foi isso que aconteceu. Em 1827, The Times (Londres) relatava que sessenta Tasmanians tinham sido mortos em vingança pelo assassinato de um colonizador; noutra ocasião, setenta Tasmanians perderam as suas vidas. A violência aumentou até que os colonos também tiraram mulheres e crianças das suas cavernas, "arrancando-lhes os miolos". Em 1829, o governo decidiu concentrar os nativos numa área infértil na costa ocidental. Prisioneiros foram enviados para os caçar, recebendo cinco libras por cada nativo que traziam consigo para o campo de concentração. Estima-se que nove tasmanianos morreram por cada um que chegou vivo.» Sven Lindquist, Exterminate all the Brutes (1992) – Granta 1996, pp118-119.

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