quinta-feira, 19 de agosto de 2021

Bico calado

  • Depois de divulgar segredos da guerra afegã, Julian Assange está a ser condenado a uma pena de prisão de 175 anos por publicar provas de crimes de guerra e abusos no Afeganistão e não só. Na imagem, Assange mostra a primeira página do The Guardian de 25 de julho de 2010.
  • Julian Assange em 2011: "O objetivo é utilizar o Afeganistão para lavar dinheiro das bases tributárias dos EUA e da Europa através do Afeganistão e devolve-lo às mãos de uma elite de segurança transnacional. O objetivo é uma guerra sem fim, não uma guerra bem sucedida".
  • «(...) o Presidente dos Estados Unidos fez um discurso em que tentou defender a honra desta guerra - uma defesa que é francamente ofensiva, e que penso que ofende sobretudo as famílias dos feridos e dos mortos. O Presidente Biden afirmou que o nosso antigo aliado, Osama bin Laden, tinha sido levado a tribunal - a nossa nobre mentira. Ele poderia ter sido levado à justiça, mas em vez disso matámo-lo. Ele nem sequer estava no Afeganistão. Se há lições a tirar desta trágica sequela de Saigão, podem ter a certeza, não as aprenderemos. Apenas ficaremos a ver como o povo do Afeganistão (…) a agarrar-se a vãs esperanças, a agarrar-se a aviões e a cair, perdidos para o deserto do poder teocrático. Alguns dirão ‘Eles não lutaram. Têm o que merecem!’ Ao que eu pergunto, ‘E o que é que nós merecemos’?» Edward Snowden.
  • Potências bélicas: lucros imensos para traficantes de armas, perdas incalculáveis para os australianos. Tasha May, Michael West Media.
  • «Domingo passado, o presidente do Afeganistão, Ashraf Ghani, fugiu de Cabul com quatro veículos de luxo e um helicóptero tão cheio de dinheiro que uma enorme pilha de dinheiro não cabia e teve que ser abandonada na pista do aeroporto. 46 anos antes, o cliente americano Nguyen Van Thieu tentou contrabandear 73 milhões de dólares em ouro do Vietname do Sul. Estes dois homens simbolizam a corrupção e a ganância que está no cerne do império dos EUA.» Jeremy Kuzmarov, CAM.

  • «No Reino Unido e nos EUA estão a escrever-se muitas parvoíces sobre o Afeganistão. A maior parte deste disparate esconde uma série de verdades importantes. Primeiro, os Talibãs derrotaram os Estados Unidos. Segundo, os Talibãs venceram porque têm um apoio mais popular. Terceiro, isto não se deve ao facto de a maioria dos afegãos amar os talibãs. Isto acontece porque a ocupação americana tem sido insuportavelmente cruel e corrupta. Quarto, a Guerra ao Terror também tem sido politicamente derrotada nos EUA. A maioria dos norte-americanos é agora a favor da retirada do Afeganistão e contra quaisquer outras guerras estrangeiras. Em quinto lugar, este é um ponto de viragem na história mundial. A maior potência militar do mundo foi derrotada pelo povo de um país pequeno e pobre. Isto irá enfraquecer o poder do império norte-americano em todo o mundo. Em sexto lugar, a retórica de salvar as mulheres afegãs tem sido amplamente utilizada para justificar a ocupação, e muitas feministas no Afeganistão escolheram o lado do ocupante. O resultado é uma tragédia para o feminismo.» Nancy Lindisfarne e Jonathan Neale, Afeganistão: O Fim da Ocupação. Nota: as mulheres no Afeganistão obtiveram o voto em1919, muito antes das mulheres britânicas (1928).
  • «Ó senhores comentadores, não vale a pena... Não queiram saber mais do que o presidente dos EUA. Afinal, o Biden é a pessoa mais honesta nisto tudo. Ontem, em 30 segundos, explicou claramente que o objectivo dos EUA na intervenção militar no Afeganistão era a caça ao homem, depois do 11 de Setembro. Querem os americanos lá saber das mulheres, das crianças, da democracia, dos direitos humanitários e de outros pormenores.» Ana Margarida De Carvalho.
  • O ministério da Defesa australiano esconde a venda de armas a Israel no âmbito de uma investigação de crimes de guerra na Palestina. O Departamento de Defesa aprovou 187 autorizações de exportação militar para Israel durante os últimos 6 anos. Michelle Fahy, Michael West Media.
  • Depois de proibir as máscaras e ordens de vacionação, o governador do Texas Greg Abbott apanha a Covid-19. Jessica Corbett, CommonDreams.
  • «(…) Na Tanzânia, a PIDE e o Comando Naval português levaram a cabo uma operação clandestina na região de Mtwara, em Novembro de 1966, visando atingir a Frelimo e em particular o seu dirigente de então, Lázaro Kavandame. (…) Depois, em Dezembro de 1969, as tropas portuguesas bombardearam por duas vezes a região de Samine, no Senegal, com a justificação do general Spínola de que se vinha a assistir à concentração de numerosos grupos “IN”(inimigos), vindos da República da Guiné-Conacri. (…) mais tarde, terá sido proposta à DGS, pelos serviços secretos franceses — SDECE —, a realização de duas operações, para servir quer os interesses portugueses, quer os franceses, ao desmantelar o PAIGC e actuar contra Sékou Touré, na Guiné-Conacri. Uma delas foi a Mar Verde, na qual não se sabe ao certo se teve a mão do SDECE, realizada, em 22 de Novembro de 1970. Levada a cabo por 250 militares portugueses, incluindo commandos e fuzileiros africanos, e por 150 elementos da oposição a Sékou Touré, a operação teve inúmeros alvos, quase todos falhados. Não só não atingiu o Presidente guineense, nem Amílcar Cabral e apenas conseguiu libertar 26 prisioneiros portugueses. (…) Quanto à segunda operação, após o assassinato de Amílcar Cabral, em 1973, o subdirector da então DGS, Agostinho Barbieri Cardoso conseguirá o apoio da “Piscine” — SDECE —, para nova intervenção franco-portuguesa, em Conacri, com o nome de código Saphir. De novo, foi programado o assassinato deste Presidente da Guiné, com o grupo dirigido pelo oposicionista Samba Djalo, sendo o responsável pela Saphir o francês Foccard, “Senhor África”. Prevista para Julho de 1974, por razões óbvias não se realizou, mas, no próprio dia 25 de Abril deste ano, Barbieri Cardoso estava precisamente em Paris para finalizar a Saphir com o conde Alexandre de Marenches, director do SDECE.» Irene Flunser Pimentel, Quando Portugal invadiu três países, em África – Público 17ago2021.

  • «(...) os britânicos começaram a ver-se a si mesmos como uma raça imperial, como diz P. J. Marshall em "The Cambridge Illustrated History of the British Empire": ‘para quase todos os imperialistas, a raça britânica era uma raça exclusivamente branca. Os povos não-brancos do império eram os seus súbditos. Eram cidadãos do império no sentido de que tinham direitos, mas não eram considerados como plenos cidadãos, capazes de controlar os seus próprios destinos’. Houve inúmeras manifestações desta supremacia branca a partir do século XIX, nomeadamente o que aconteceu na Tasmânia. Kipling popularizou a ideia em 1899, através do poema 'o fardo do homem branco' - apresentando a noção de que os brancos tinham o dever moral de governar sobre os não brancos e encorajar o seu desenvolvimento cultural, social e económico». Sathnam Sanghera, Empireland – Penguin 2021

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