sexta-feira, 20 de agosto de 2021

Bico calado

O que levamos para o Afeganistão: democracia, segurança, controlo anti-drogas, igualdade de direitos

  • «Uma guerra que começou sem qualquer propósito, prosseguiu com... precipitação e timidez, terminada depois de sofrimento e desastre... Nem um só benefício... A nossa evacuação final ... assemelhou-se à retirada de um exército derrotado". G. Gleig sobre a evacuação britânica de 1842 (!) de Cabul. Via Yanis Varoufakis.
  • «Os nossos serviços secretos foram assim tão maus? O nosso conhecimento do Governo afegão e da situação no terreno era assim tão fraco? Ou simplesmente achámos que nos bastava seguir os EUA e rezar para que tudo corresse bem?» Teresa May, antiga primeira-ministra Conservadora. Via Público 19ago2021.
  • «Uma saída ordeira do Afeganistão exigia admitir a derrota e negociar o indizível: rendição aos Talibãs. Em vez disso, os EUA preferiram manter a ficção de que estavam a entregar o poder ao governo afegão, seja ele qual fosse, e ao antigo Presidente Ashraf Ghani. Preferimos arriscar o caos a que estamos agora a assistir do que admitir a derrota. Afinal, já não são as nossas vidas que estão em risco, mas sim as vidas dos afegãos que nos ajudaram durante os últimos 20 anos. (...) Aplicou-se o mesmo truque a todo o material militar. Biden tem sido criticado por o ter deixado cair nas mãos dos Talibãs, mas estava a fornecer equipamento e armas ao Exército Nacional Afegão. Se em vez disso ele tivesse recambiado tudo para casa, o exército não teria gostado, e isso significaria que as coisas estavam a desmoronar-se. O mesmo aconteceu com a evacuação de refugiados. O envio de refugiados em massa teria mostrado que os EUA tinham perdido a confiança total no governo, o que então apressaria a sua queda. Manter a ficção de que o governo afegão era uma preocupação real e contínua exigia tratá-lo como tal. Como qualquer jogo de confiança, ele dura apenas enquanto as pessoas acreditam nele.» Ryan Grim, The Intercept.
  • «(…) Desta vez, sem o dramatismo de Saigão, o Pentágono ordenou a retirada dos funcionários afegãos que serviam os senhores da NATO e respetivas famílias; como em tempos mais recuados, a criadagem acompanha os senhores. Aparentemente, não precisam de voar agarrados ao trem de aterragem dos helicópteros. Aliás o funcionário NATO de serviço como presidente do país – um tal Ghani – até teve tempo e autonomia suficiente para fugir e ser acolhido nos Emiratos Árabes Unidos. Ele saberá bem o que os talibans fariam a tão elevado serventuário da NATO (…)». Vítor Lima, A reunião virtual da NATO foi um espectáculo - A estátua de sal.
  • «(…) O Iraque será o próximo mono a ser despachado. O petróleo vale cada vez menos como produto estratégico, até está mal visto pelos ambientalistas que são cada vez mais. O Médio Oriente é para desinvestir, para fechar as cortinas, ou passar para segundo plano. O novo palco de disputa mundial será o Pacífico, o Mar da China. Eu, se fosse dirigente da Arábia Saudita, punha as barbas de molho. Os pró-americanos da Ucrânia também deviam pensar na vida, assim como os das repúblicas bálticas, os polacos e húngaros que se têm disponibilizado tão servilmente para servir de bases temporárias aos espetáculos de circo e feras de Washington. É que bem podem ser os próximos monos a ficar sem pipocas e sem Coca Cola.» Carlos matos Gomes, Afeganistão — um mono. Medium.

  • «Em 1889 Cecil Rhodes, que com a sua Companhia Britânica da África do Sul fundou o território da África Austral da Rodésia (actualmente Zimbabwe e Zâmbia), declarou que a raça anglo-saxónica era 'a primeira raça do mundo'. E acrescentou: ‘Acontece que somos as melhores pessoas do mundo, com os mais altos ideais de decência, justiça, liberdade e paz, e quanto mais mundo habitarmos, melhor será para a humanidade’. Na sua “Confissão de Fé”, um documento que redigiu em 1877, expondo as suas opiniões sobre o imperialismo, Rhodes imaginou o seu mundo ideal: 'Imaginem as zonas que são atualmente habitadas pelo espécime mais desprezível do ser humano, que alteração haveria nelas se estivessem sob influência anglo-saxónica (...) se houvesse um Deus, penso que o que ele gostaria que eu fizesse era pintar de vermelho o máximo possível do mapa da África britânica'. » Sathnam Sanghera, Empireland – Penguin 2021.
  • «(…) todo o país está coberto pelo SNS, à exceção deste local. E o mais grave caso de falha na qualidade técnica da campanha, regista-se precisamente aqui. Só um tolo pode achar que é coincidência! Mas afinal, quem é a Unilabs? A Unilabs é uma multinacional Suíça que lidera o mercado europeu de exames complementares de diagnóstico. Em 2006 adquiriu 85% do Centro de Medicina Laboratorial Dr. Carlos Torres. A partir daí foi só crescer: comprou dezenas de pequenos laboratórios portugueses e construiu um monopólio. É dirigida por Luís Menezes, deputado pelo PSD entre 2009 e 2014, filho de Luís Filipe Menezes, antigo líder do partido. Em 2019, realizou 10,1 milhões de análises pagas pelo SNS. É hoje o maior laboratório de análises em Portugal e aquele que cresce mais rapidamente. Já em 2020, a Unilabs aproveita a pandemia da Covid-19 para dispensar trabalhadores a recibos verdes, forçar trabalhadores contratados a gozar férias durante o período de confinamento da pandemia e a mudar trabalhadores de posto de trabalho sem a respetiva compensação. O laboratório foi ainda acusado de criar um “banco de horas negativo” para os trabalhadores que ficaram em casa em confinamento obrigatório, com o intuito de “cobrar” mais à frente essas mesmas horas em trabalho. Porque existe esta exceção na campanha de vacinação? Porque teima Rui Moreira em a manter? Quem vai assumir a responsabilidade das mil vacinas “estragadas”? É caso para dizer: valha-nos o SNS, senão não eram mil, eram milhões!» Bruno Maia, Mas quem é a Unilabs? Esquerda.
  • Um dos empresários mais ricos de Malta, Yorgen Fenech, foi acusado pelo assassinato da jornalista anti-corrupção Daphne Caruana Galizia. Fenech está preso desde novembro de 2019, acusado de cumplicidade no seu assassinato. EurActiv.

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