Bico calado
- «(…) a morte de Otelo Saraiva de Carvalho proporcionou o
ressurgimento de um outro grupo, o do “mas”. O grupo dos falsos “cândidos”, dos
que argumentam candidamente que a operação militar foi boa, “mas” a revolução
não foi democrática e o seu desenrolar até foi atribulado. Os do “mas” não perdoam a Otelo a responsabilidade de ter
transformado um putsh militar numa revolução, incentivado os
portugueses a agir e a organizar-se espontaneamente para decidir o que fazer
após o derrube da ditadura, o fim da polícia política, dos tribunais plenários,
da censura, do poder patronal absoluto! Ora, esta liberdade tomada por
necessidade e impulsionada por Otelo, constituiu e constitui uma ofensa
imperdoável aos “mas” sobre o que “devia ser uma democracia”, trazida já
talhada, pronta-a-vestir do Posto de Comando da Pontinha, ou, ainda melhor, de
casa do general Spínola. (…) A sua morte trouxe para os jornais e televisões os
herdeiros dos integralistas e relembrou a persistência de um Portugal de seres
mesquinhos, interesseiros, de um lupmen de bem-apessoados e bem
instalados que, para defender os seus interesses, não hesitará em colocar um
“mas” na fórmula atual de democracia e de Estado de Direito, de se unir aos
ressabiados, não certamente para melhorar a vida dos portugueses, nem lhes
acrescentar liberdade, mas para impor um regime que lhes seja mais rentável,
porque sempre viveram de rendas e de ausência de princípios.» Carlos Matos
Gomes, Mas.
- O império foge pela calada da noite, José Goulão – O lado oculto.
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