domingo, 24 de janeiro de 2021

Bico calado

A história da política externa de Biden e o que ela pressagia para a sua presidência

Quando Biden fez a sua primeira campanha para o Senado em 1972, apresentou-se como uma pomba que se opôs à Guerra do Vietname e até apoiou um projeto de lei que pedia a proibição de todas as operações secretas. Porém, em breve Biden transformou-se num falcão neoconservador. Depois de obter uma baixa médica para não ser incorporado no exército, ridicularizou os manifestantes anti-Guerra do Vietname na Universidade de Syracuse e, em 1976, afirmou à Senate Intelligence Committee  que "não tinha ilusões sobre as intenções e capacidades soviéticas no mundo".

Na década de 1980, Biden apoiou aumentos no financiamento dos serviços secretos e contra-espionagem depois de Jimmy Carter ter tentado reduzir o pessoal da CIA em um terço. Depois da invasão de Granada e do bombardeamento da Líbia pela administração Reagan, Biden afirmou "Reagan fez bem " e "não há dúvida de que Gaddafi pediu e merece uma resposta forte como esta", respetivamente. Na década de 1990, Biden foi o principal defensor da guerra nos Bálcãs e, em 2002, desempenhou um papel importante na construção do apoio do Senado para a guerra preventiva contra o Iraque. Biden afirma-se como liberal apenas quando se trata de direitos e liberdades civis, em outras questões, diz que "Eu sou muito conservador".

A história esquecida de como Joe Biden ajudou a estimular a guerra contra a droga na Colômbia

Em 1999, a administração Clinton lançou o Plano Colômbia, um programa antidrogas de US $ 1,3 mil milhões com a finalidade de não só combater os narcotraficantes, mas também apoiar o governo colombiano na luta contra as guerrilhas esquerdistas das FARC. Ao abrigo desse plano, os EUA treinaram 75 mil soldados colombianos e forneceram imenso material bélico ao país. Na prática, o Plano Colômbia pouco fez para mitigar a corrupção relacionada com drogas ou deter o tráfico de drogas, como afirmou Biden. Um relatório de dezembro de 2020 divulgado por Eliot Engel (D-NY), considerou o Plano Colômbia um “fracasso na luta contra os narcóticos”, sublinhando o facto anteriormente omitido de que o objetivo central do Plano Colômbia era combater as FARC.

Um dos aspectos menos conhecidos e piores do Plano Colômbia foi o programa de desfolhamento aéreo, que expulsou os moradores das áreas controladas pelas FARC e abriu caminho para megaprojetos em benefício de corporações multinacionais. Um número incalculável de agricultores morreu de desidratação, febre e outras doenças, e milhares foram deslocalizados - um resultado previsto no pacote inicial do Plano Colômbia apoiado por Biden incluía US $ 15 milhões para “realojamento de emergência e emprego de pessoas deslocalizadas pelo Push into Southern Colombia Program.

Os principais beneficiários do Plano Colômbia foram os grandes empreiteiros de defesa, que forneceram à campanha de Biden mais de $ 436.000 a mais do que a de Trump durante a campanha para as eleições presidenciais de 2020.  Esses ‘piratas’ foram a Monsanto, a Bell e a Sikorsky, que fabricavam helicópteros Black Hawk, e a gigante de energia Enron, ligada à CIA, patroa da Centragas, um sistema de distribuição de gás natural sedeada a 357 milhas no norte da Colômbia. Outra beneficiada foi a Occidental Petroleum, sediada em Los Angeles, que controlava o campo petrolífero Cano-Limon Convenas e do oleoduto que partia da fronteira com a Venezuela.

O vice-presidente Al Gore, que apoiou o Plano Colômbia com Biden, tinha mais de US $ 500.000 em ações da família na Occidental, e que contribuiu com pelo menos US $ 250.000 para a transferência Clinton-Gore. O fundador da empresa, Armand Hammer, foi um dos principais benfeitores da carreira política de Gore, junto com a de seu pai, o senador Al Gore, Sr. Durante a campanha de 2020, a Occidental deu $ 12.765 ao candidato presidencial Joe Biden, provavelmente para retribuir os favores do seu seu apoio ao Plano Colômbia.

O que esperar do presidente Biden

Tendo em conta o passado politico de Biden, ele provavelmente manterá a guerra contra o narcotráfico na Colômbia, que alcançou US $ 448 milhões em 2020, o maior em nove anos. Na sua campanha, Biden caracterizou a Colômbia como a “pedra angular” da política dos EUA na América Latina, apesar do atual presidente Ivan Duque ter tomado medidas para minar um acordo de paz de 2016 com as FARC. Refira-se que, segundo grupos de defesa dos direitos humanos , houve 68 massacres perpetrados pelo exército colombiano nos três primeiros trimestres de 2020, a maioria visando ex-comandantes das FARC e líderes regionais afro-colombianos. Sublinhe-se ainda que a importância estratégica da Colômbia justifica a presença de 7 bases militares dos EUA, mesmo ao lado da Venezuela, país cujo presidente é, para ele Juan Guaidó, e não Nicolás Maduro, por ele considerado "ditador puro e simples".

Por isso, Biden deverá prosseguir com operações de mudanças de regime que dependem de fortes relações bilaterais com a Colômbia, independentemente do seu historial de violações de direitos humanos. Jeremy Kuzmarov, Convert Action.

Para os curiosos e mais exigentes nestas coisas:

«Os militares colombianos, que recebem o grosso da ajuda norte-americana, estão envolvidos no narcotráfico enquanto mantêm íntimas relações com força paramilitares também elas envolvidas no narcotráfico e na proteção dos produtores de droga. Em 1996, oficiais da Força Aérea Colombiana tentaram contrabandear heroína para os EUA num avião usado pelo então presidente ErnestoSamper. Um colaborador de Clinton considerava Samper um «traficante de droga». Em 1994, um relatório da Amnistia Internacional calculava que mais de 20 mil pessoas teriam sido eliminadas na Colômbia desde 1986, principalmente por militares ou aliados paramilitares – não por causa da droga mas por razões políticas. Muitas das vítimas  eram ‘sindicalistas, ativistas dos direitos humanos e líderes de movimentos da extrema esquerda legal’. A Amnistia denunciava o facto de ‘o equipamento militar disponbilizado pelos EUA ostensivamente entregue par combater os narcotraficantes estava a ser usado pelos miliatres colombianos para cometer abusos em nome da contra-insurreiçãoWilliam Blum, Rogue State – Zed Books 2002, p163

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