quinta-feira, 24 de dezembro de 2020

Azambuja: Licença de caça suspensa após fuzilamento de 540 animais em Torre Bela

Era uma vez a Quinta da Torre Bela, zona de caça em Azambuja, cuja proprietária queria converter numa central fotovoltaica. O problema é que a fonte de rendimento, - veados, gamos e javalis -, passaram a ser fonte de problemas. O estudo de impacto ambiental alertava para o facto de os painéis solares irem reduzir significativamente o espaço de circulação dos animais. Rapidamente se convocou uma «montaria», através da qual 17 homens pagaram, cada um, cerca de 7 mil euros para abater 540 animais. O massacre foi divulgado e provocou indignação geral. O Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) suspendeu a licença da Zona de Caça de Torre Bela, na Azambuja, apresentando ao Ministério Público uma participação de crime contra a preservação da fauna.

O ministro do Ambiente, Matos Fernandes, sublinha que não há qualquer relação com a construção de uma central fotovoltaica no local: «A empresa que ganhou o concurso já condenou a chacina. Não há qualquer relação entre uma coisa e outra», disse.

Este episódio está a ser divulgado em língua inglesa no twitter por portugueses. Simplificado ao elemento mais básico, algo descontextualizado e omitindo pormenores, o episódio está a ser aproveitado para denegrir as energias renováveis.  Aproveitam, também, para alimentar a habitual cruzada contra a geringonça.

Subsídios para alguma contextualização:

«Ocupada a 23 de Abril de 1975 por vários trabalhadores da região, a herdade da Torre Bela (herdade dos Duques de Lafões) ficou conhecida por não ter tido intervenção partidária, tendo sido criada uma cooperativa popular e não comunista, como era comum. No Verão de 1976, a ocupação foi legalizada e os trabalhadores que continuaram naqueles campos mantiveram-se na herdade, onde foi construída uma cantina e até uma creche para os filhos dos agricultores.» O Mirante 26ago2009.

«Eles clamaram mesmo por ajuda, mas não chamaram o PCP: foram bater à porta da LUAR – Liga de Unidade e Acção Revolucionária, fundada em Paris, em 1967, por um punhado de opositores do Estado Novo exiliados. Ao apelo dos ocupantes da Torre Bela respondeu a LUAR com Camilo Mortágua. A cantiga ‘Um Tractor’, de Sérgio Godinho, foi composta e cantada em homenagem a Camilo Mortágua e às cooperativas fundadas pela LUAR. É inspirada, muito especialmente, na experiência de Torre Bela: “Um tractor/ dá que fazer ao suar/ dos que põem na sementeira/ as sementes da maneira/ como as coisas se farão/ e o nome revolução/ bem pode ser atribuído/ a um tractor/ assim usado/ a um braço assim estendido/ “entre o futuro e o passado”.» Correio da Manhã 17abr2005.


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