segunda-feira, 20 de julho de 2020

Bico calado

  • «(…) É por isso que, pura e simplesmente, não acredito – não por fé, mas por razão – que o BES e Salgado pudessem fazer tudo de que são acusados sem que tal fosse, pelo menos em traços largos, conhecido, a começar pelos seus pares na banca e, por maioria de razão, do Banco de Portugal. E, das duas, uma: ou esse tipo de práticas era mais comum do que hoje se faz crer singularizando o BES, ou uma conspiração corporativa de silêncio permitiu a continuada violação da lei pelo BES, ou as duas coisas ao mesmo tempo. Ou Salgado e o BES mantinham as protecções dadas ou compradas e ainda não tinham caído politicamente. O festival de hipocrisia a que hoje se assiste, publicitado por muitos jornalistas económicos (salvo raras excepções) que estiveram também debaixo da asa do BES, não é apenas deprimente, mas é também perigoso. É a melhor garantia de que tudo se pode repetir, com outros protagonistas e outros métodos, mas com o mesmo mecanismo de ganância e silêncio. Até porque há um aspecto que não tenho espaço para referir aqui e fica para outra altura: não se cai na justiça antes de se cair politicamente. Bom, os macaquinhos japoneses, esses nunca vão ficar desempregados.» José Pacheco Pereira, in Os três macacos sábios – Público 18jul2020
  • «Raul Schmidt é acusado por corrupção, branqueamento de capitais e associação criminosa, no Brasil. Mas fugiu para Portugal e ninguém o incomoda. Schmidt é suspeito, no âmbito do Processo de Corrupção LAVA-JATO, de ter sido intermediário de luvas que foram pagas a ex-directores da Petrobras. Deveria ter sido extraditado, a decisão de extradição já havia transitado em julgado. Mas ficou por cá, intocável. Porquê? Porque o Juiz do Supremo Tribunal de Justiça, Manuel Joaquim Braz, travou a extradição. E, nesse interim, Schmidt conseguiu em tempo recorde nacionalidade portuguesa, já depois de estar em curso o processo. A sua defesa esteve a cargo do poderoso escritório de Daniel Proença de Carvalho. Proença transforma corruptos estrangeiros em nossos compatriotas imunes e impunes.» Paulo de Morais, FB.
  • «A professora de português que deu a primeira aula da telescola deu uma entrevista ao Expresso este fim-de-semana onde diz que nunca gostou de ler, cito, e está a fazer um esforço para ler um livro no Verão. (…) A professora de português que não gosta de ler não é um caso, mas um problema disseminado na educação – a proletarização dos docentes, transformados em mediadores de entrega de conteúdos pré feitos, desprovidos e expropriados do seu ser-pensar-intelectual. (…) No nosso estudo sobre o trabalho docente era visível a desintelectualização da profissão e a falta de consciência desse processo. Quando nós dissemos aos docentes que eles eram intelectuais expropriados uma larga parte ficava impressionado, “então eu devia ser um intelectual”? pensavam com estranheza. Insistimos que para não haver burnout eles tinham que se assumir como sapateiros e não como vendedores de sapatos. Como produtores de conteúdos e não entregadores de conteúdos. E tinham que lutar por isso, não havia e não há outra forma de driblar a depressão, perda de qualidade e sentido do trabalho que não seja lutar contra estas condições de trabalho, por mais ioga e auto ajuda que façam. Em breve (já aliás em curso em Portugal), se nada fizerem, serão apenas monitores de exames também eles de cruzinhas, que o próprio computador se encarregará de corrigir. No Brasil o dito ensino à distância, e isto também no Universitário, já colocou um docente a corrigir 40 mil provas, leram bem, 40 mil. Nem ele é docente, nem a prova é prova, nem a correcção é correcção – é tudo uma enorme farsa que visa a automação, por um lado, e o défice zero por outro, ou seja o pagamento de dívidas privadas transformadas em públicas.(…)» Raquel Varela, in O professor-robot.
  • Uma comissão criada para assessorar o governo na manutenção de padrões de bem-estar animal e ambientais nos acordos comerciais pós-Brexit inclui duas figuras importantes de um laboratório de ideias conhecido por oferecer acesso íntimo aos ministros do Reino Unido para os agronegócios americanos. Rachel Sherrington, DesmogUK.
  • 11 filmes imperdíveis sobre denunciantes: Serpico (1973), All the Presidents Men (1976)  Silkwood (1983), The Insider (1999), Erin Brockovich (2000),  The Informant (2009), Snowden (2016), The Post (2017),  Crime + Punishment (2018), The Laundromat (2019), Official Secrets (2019).

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