sábado, 28 de março de 2020

Bico calado

  • «(…) O exemplo andaluz serve-nos de pré-aviso quanto ao que pode suceder se, confirmando o que disseram nas respetivas campanhas internas, os líderes do PSD e do CDS não vejam qualquer problema em aliarem-se ao Chega. Uma sociedade em que um tipo de aliança desse tipo se forja prescinde dos seus principais valores civilizacionais e adota comportamentos bárbaros. Não foi por acaso que, no tempo da troika, um deputado do PSD falou da dispensável peste grisalha. Os conceitos desse timbre agitam-se nessas cabeças e, acaso encontrem alibi nas alianças às extremas-direitas, saem livremente sem qualquer moderação quanto a uma ética, em que efetivamente não se reconhecem. Vemos isso lá fora, quando Bolsonaro arrisca a vida de milhões de brasileiros considerando a covid-19 uma espécie de «resfriadinho». Ou Trump, que quer a economia a funcionar plenamente antes da Páscoa, porque sabe o destino  a si reservado ao chegar à eleição de novembro com a bolsa muito abaixo das cotações de há três anos e meio e a taxa de desemprego a alcançar uns históricos 13% como prevê a Morgan Stanley. Ou ainda Viktor Orban, que dando um passo mais na sua absoluta ditadura, quer passar a governar por decreto. Ou Netanyahu, que aproveita a crise sanitária para adiar mais uma vez o seu encontro com o cárcere. Mas todos esses são crápulas de alto gabarito. Não se pense, porém, que os não temos em dimensão mais reduzida, mas igualmente nociva, como sucede com os alarmismos do vice-presidente do PSD, que é edil em Ovar e põe em causa os números da Direção Geral de Saúde como se não nos lembrássemos de como ignorou os conselhos para não levar por diante os festejos de Carnaval. (…)» Jorge Rocha, in Porque importa que sejam poucos os que se juntem aos vilõesVentos Semeados.
  • «(…) Agora, diante da emergência médica imposta, não é útil escrutinar as teorias da conspiração que propõem as mais assustadoras causas para a Covid-19. Além do fortalecimento do serviço de saúde público, universal, democrático, gratuito, importa começar a prestar atenção à necro-política, essa deturpação absoluta, golpista, de foro criminoso, que vampiriza a miséria para justificar todas as atrocidades antidemocráticas, preterindo as leis fundamentais sem outro propósito que não o de usurpar o poder e instrumentalizar a finança. A Covid-19 é uma ameaça a tudo quanto se conquistou. Mal gerido o tempo de a vencermos poderemos acordar num Mundo que não será somente empobrecido, mas também embrutecido, por imponderada fúria ou frustração (coisa que já vinha acontecendo no Mundo inteiro) entregue às mãos de novos ditadores. (…) Mas sei que podemos estar a falar dos últimos democratas. Figuras meninas chegaram à política portuguesa que escalam como outros vírus nas simpatias dos torpes e dos muito ignorantes, acenando já a um futuro que uma pandemia e consequente crise financeira poderão antecipar quase entusiasticamente. (…) É imperioso que a liderança inequívoca necessária nestes tempos não se confunda com uma imprestabilidade da Democracia. É imperioso que comecemos a discutir o medo para que ele se desmistifique. Os discursos do medo, do ódio, do preconceito, da exclusão, têm de ser atacados e nenhum cidadão pode ser convencido de que perdeu o direito ao seu país e muito menos o direito à vida. As tolerâncias democráticas não podem redundar na impunidade perante ataques constantes às leis fundamentais segundo as quais nos constituímos. Quando já se elegem presidentes cujos ídolos são comprovados torturadores ao serviço de ditaduras, quando o mundo democrático ratifica tal gesto, a doença da tolerância está diagnosticada. Liberdade não é legitimação do grotesco, ou elogio do crime. Liberdade não é branqueamento do crime e da opressão. Isso é cumplicidade e opressão. É opressão. À espreita deste vírus está outra coisa maior, mais grave. Saibamos, a todo o momento e mesmo em possível estado de emergência, defender o elementar ouro da sociedade: a democracia, império contrário da discriminação e da mentira.» Valter Hugo Mãe, in Notícias Magazine 24mar2020.
  • Um estudo da CIA, datado de 2005, antecipava “o aparecimento de uma nova doença respiratória humana virulenta, extremamente contagiosa, para a qual não existe tratamento adequado". E fala especificamente no coronavírus. Esse estudo foi mantido em secreto até o jornalista francês Alexandre Adler o revelar num livro  O Relatório da CIA: Como Será o Mundo em 2020, Editora Bizâncio, na edição portuguesa. Visão
  • Cerca de 1,5 milhão de máscaras de respirador N95 estão num armazém do governo dos EUA no estado do Indiana e as autoridades não as disponibilizaram porque estarem fora do prazo de utilização, apesar das diretrizes emitidas pelo Center for Disease Control para uso seguro durante o surto de coronavírus, conta o insuspeito The Washington Post.
  • A pandemia da COVID-19 devia ser uma oportunidade para reduzir a pegada mortal dos militares em casa e no estrangeiro. Não podemos deixar que os militares usem essa crise para expandir os seus poderes. A última coisa que precisamos é de uma doutrina de choque militar, escreve Sarah Lazare na Jacobin.

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