quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Bico calado

  • «Em maio de 2017, nas Conferências do Estoril organizadas pela Câmara Municipal de Cascais, havia um painel muito interessante que juntava Baltazar Garzon, António di Pietro, Sérgio Moro e Carlos Alexandre. Quatro magistrados que se distinguiam nos seus países (Espanha, Itália, Brasil e Portugal) pela condução de processos anticorrupção. Os conferencistas foram apresentados (e seguidos!) como pop stars, homens predestinados a pôr em causa o flagelo da corrupção que mina(va) os regimes democráticos dos seus países. Nessa altura já se sabia que Garzón e Di Pietro tinham deixado a magistratura e enveredado pelo exercício de cargos políticos. O que não me parece positivo. O que não se sabia (embora alguns já previssem...) era que, passados 17 meses, Moro viria a ser convidado para "superministro" do fascista Bolsonaro. Com uma diferença muito grande relativamente a Garzón e Di Pietro: Moro é ministro de um presidente que ajudou a eleger quando impediu Lula de se candidatar (sabendo-se que era aquele que recolhia, nas sondagens, mais intenções de voto). E passa a ministro antes mesmo de ver a condenação (ou a absolvição) definitiva de Lula. Ou seja, deixa o trabalho a meio (ou será que o completou, porque o seu único objetivo era eliminar Lula destas presidenciais?). Como disse Moro, há um ano, à revista "Veja": "Não seria adequado da minha parte postular qualquer espécie de cargo político porque isso poderia colocar em dúvida a integridade do trabalho que eu fiz até ao momento". Pois eu já não tenho qualquer dúvida de que "integridade" não rima com Moro... E, já agora, desejo sinceramente que Carlos Alexandre não siga este caminho, porque esta descredibilização da justiça corrói tanto a democracia como a corrupção.» Rui Sá, in O FarsanteJN 5nov2018.
  • «(…) Independentemente de estar Obama ou Trump na Casa Branca vigora em Washington a expetativa de um inevitável confronto entre os Estados Unidos e a China pela primazia económica a nível mundial. Ora, para enfraquecer os possíveis apoios do outro campo, a CIA esteve ativa no sucesso do Brexit, trabalha para que a União Europeia falhe como projeto político e económico e sabota a convergência criada entre os BRICS. Daí o sucedido nas eleições brasileiras com amplo recurso a fake news. Quem pense ser esta uma perspetiva exagerada do que ocorre nesta altura não deve esquecer o que Snowden denunciou e que irritou tão violentamente o anterior ocupante do Salão Oval. Na perspetiva dos norte-americanos a parte sul do continente terá de ser recuperada como seu quintal das traseiras, não se repetindo a distração dos primeiros anos deste século com a guerra no Iraque, que possibilitou a formação de governos progressistas na Argentina, na Venezuela, no Brasil, na Bolívia, no Equador e no Chile. E não se pense que as agências secretas ao serviço dessa agenda imperialista se intimidem com os meios: basta pensar como Dominique Strauss-Kahn foi apanhado no caso da camareira um mês depois de, enquanto líder do FMI, propor a substituição do dólar por uma cesta de moedas nos negócios mundiais. Ou como Saddam Hussein ou Kadhafi acabaram depois de proporem a transação de petróleo, respetivamente, com euros ou com uma moeda africana semelhante à europeia. Estejam em causa os interesses dos que querem continuar a manter a sua primazia como superpotência dominante e não há escrúpulos quanto aos recursos a investir. É por tudo isto que o professor de Coimbra [Boaventura Sousa Santos] conclui a entrevista com a indicação do rumo a tomar para que o projeto imperialista falhe rotundamente: “A distinção entre esquerda e direita nunca foi tão importante. A esquerda muitas vezes apaixona, mas deixa passar oportunidades de ser outra alternativa de vida. A esquerda não pode ter vergonha de defender o Estado, obviamente democrático e não corrupto. Quem mais vai precisar de saúde pública, de mais educação, não serão as classes médias altas, mas sim aquelas que ganham o salário mínimo. É preciso ter a coragem de aumentar os impostos dos mais ricos. Prejudica o investimento, dizia-se em Portugal. Não foi assim, pelo contrário, aumentou. Há muitas mentiras econômicas. Os maiores mentirosos deste século ganharam os prêmios Nobel de Economia.”» Jorge Rocha, in Ventos Semeados.
  • O grupo da campanha Brexit Leave.EU e a companhia de seguros Eldon Insurance/GoSkippy, propriedade da Arron Banks, enfrentam multas no total de 135 mil libras por violação de leis de dados. The Guardian.
  • A Igreja Católica de Guam vai declarar a falência, uma medida que permitirá que a arquidiocese evite o julgamento em dezenas de processos que acusam vários padres de alegado abuso sexual de crianças. AP.
  • Edward Snowden afirmou que o Pegasus, software de vigilância produzido pela israelita NSO Group Technologies, foi usado para espiar não só grupos de jornalistas no México mas também o jornalista saudita Jamal Khashoggi, assassinado o mês passado no consulado saudita em Istambul. JPost.
  • Grupos pró-israelitas terão inventado difamações, incluindo falsas acusações de agressão sexual, para desacreditar professores e estudantes em universidades americanas que apoiam direitos iguais para os palestinianos, denuncia o terceiro episódio do documentário The Lobby, produzido pela Al Jazeera.

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