domingo, 12 de novembro de 2017

Bico calado

Imagem colhida aqui.
  • A April, uma das maiores empresas de celulose e papel do mundo, transferiu biliões de dólares através de uma rede de empresas offshore. Grandes bancos continuaram a emprestar às filiais offshore da April, apesar das preocupações dos ambientalistas e das próprias políticas de sustentabilidade dos bancos. A April é uma das dezenas de empresas de produtos florestais da Ásia que utilizaram os serviços da Appleby. ICIJ.
  • «(…) Comecemos pelo remake de uma espécie de anticomunismo combatente que acha que o comunismo ressuscitou com a “geringonça”. Alguém que saiba minimamente de história pode achar que existem bolcheviques escondidos nas pregas da nossa sociedade, prontos a tentar assaltar o Palácio de Inverno? É capaz de haver, a julgar pelo modo como à direita se usam epítetos e imagens para colocar o pacífico António Costa, a expedita Catarina Martins e o bondoso Jerónimo de Sousa como partes de uma sequência em faixa ou bandeirinha que começa em Marx, Engels, Lenine, Estaline e Mao Zedong, e chamar ao actual Governo “comunista” e de “extrema-esquerda”. Há que apelar ao Senhor para pedir perdão por eles, porque não sabem o que dizem. Seria a mesma coisa que colocar Mussolini, Hitler, Le Pen, Portas e Passos Coelho numa bandeira amarela, uma patetice semelhante. É exactamente por esta utilização aberrante da Revolução de Outubro que, à direita, as coisas são menos interessantes. O combate é contra um fantasma a que eles dão energia tratando-o como uma coisa viva. À esquerda agradece-se a tontice, porque isso serve para dar corpo ao fantasma e tornar aparentemente menos absurda a defesa das suas virtudes. Isso facilita ao PCP achar que a Revolução de Outubro também está viva, reclamando o legado de Outubro e de Lenine, o que serve para demarcar uma identidade que é também em grande parte mitológica. Fantasma e contrafantasma.(…) José Pacheco Pereira in Os anjos e os demónios que a Revolução de Outubro de 1917 solta no Portugal anacrónico de 2017 - Público 11nov2017.
  • »(…) O meu problema é com a parolice nacional, e com a forma provinciana e deslumbrada como a elite portuguesa olha para a Web Summit; como toda a gente, do primeiro-ministro ao Presidente da República, procura uma photo opportunity com Paddy Cosgrave; como todos querem parecer cool e tecnológicos e trendy; e como tudo isso é reflexo de um país pobre e limitado, onde muito pouco acontece (…) O verdadeiro parolo da Web Summit não é o empreendedor que ali vai apresentar uma ideia, nem o miúdo que vai à procura de um sonho, nem o investidor que vai à procura de um negócio, mas sim a catrefada absurda de portugueses que confundem trabalho com networking, que acham que ter ideias originais é copiar as ideias dos outros, que não distinguem informação de conhecimento. Eu conheço demasiada gente que está sempre a par da última tecnologia e da última trend, que tem sempre o mais recente modelo de iPhone, que sabe tudo o que se passa na Google e no Facebook, mas que depois é absolutamente incapaz de ter uma única ideia original, de construir um produto de jeito, de fazer algo para o qual possamos olhar e dizer: “sim senhor, isto está realmente bem feito, parabéns.” Aquilo que “A Web Summoparolice” criticava é a proliferação de Oliveiras da Figueira 2.0, com um paleio inversamente proporcional à qualidade do seu trabalho. A minha crítica ao deslumbramento perante a Web Summit é este empreendedorismo de mirones, que se traduz num desfile vazio de beautiful people apinhada de gadgets sob cenários LED a faiscar. Tudo ok, se tivéssemos garagens cheias de miúdos a tentarem ser o novo Steve Jobs. Mas temos? Não, não temos. Os cenários estão cheios, mas as garagens continuam vazias. Os parolos são os que confundem uma coisa com a outra — e são tantos que até dói.» João Miguel Tavares in Os mirones do empreendedorismo - Público 11nov2017.

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