sábado, 29 de julho de 2017

Bico calado

Imagem colhida aqui.
Esta faz-me recordar o célebre discurso de Odorico em campanha eleitoral defendendo cemitério.

  • Quem é Isabel Monteiro, a empresária da lista de 73 mortos de Pedrógão? Responsável pela Dialectus, uma empresa que produz programa televisivos como Toda a verdade, 60 minutos, Masterchef, Kitchen Nightmares, No Reservations, Doctor Phill, Naruto, entre outros. A Dialectus teve como principal cliente o canal SIC em simultâneo com AXN, Lusomundo, MEO Kids, Canal Panda, BBC Brasil e Fox. A maioria dos seus colaboradores encontra-se no desemprego e continua sem receber o que lhes é devido. Jornal Tornado.
  • A operadora de telecomunicações Meo aplicou uma penalização de 139 euros pelo cancelamento do contrato de uma vítima mortal do incêndio de Pedrógão GrandeJornal de Leiria.
  • «Toda a cobertura de Pedrógão revelara já o melhor e o pior do jornalismo que temos. Mas estes últimos dias foram de facto exemplares. De quê? Do modo como é possível fazerem-as títulos bombásticos que afinal são desmentidos pelas próprias notícias. A manchete do Expresso segundo a qual a “Lista de 64 mortos exclui vítimas de Pedrógão” choca com a própria reportagem, em que afinal as vítimas excluídas eram uma só pessoa, que as autoridades públicas – e não políticas -, seguindo critérios técnicos internacionais, não consideraram “vítima direta”, dado que morrera atropelada. Exemplar também de como a imprensa de referência consegue fazer notícias baseadas em poucos depoimentos e factos mas em muito spinning político (a utilização pelo jornal i, citada por outros meios, de uma lista de mortos atribuída a uma obscura empresária, pelos vistos conhecida por enganar trabalhadores, é um exemplo da degradação informativa e noticiosa). Exemplar, finalmente, de como órgãos de referência se podem prestar ao mais absoluto e triste ridículo (o jornal da noite da SIC, com uma infografia dos mortos e uma jornalista entusiasmada que chegou a anunciar ter havido uma pneumonia “causada pelo incêndio” – o que é um absurdo – é um caso eloquente do grotesco). Francamente, os leitores e os espectadores mereciam mais. E agora, em vez dos disparos do costume sobre quem faz análise e crítica da imprensa (a página dos “Truques da Imprensa Portuguesa” sendo um dos alvos do ódio de alguns jornalistas que abominam qualquer escrutínio), em vez das insinuações sobre tratar-se de gente “ao serviço do cartão partidário” (um dos mais básicos truques de desqualificação do outro para evitar discutir a substância, que é ainda mais grave quando quem o enuncia sabe tratar-se de uma mentira), mais valeria a grandeza de um pedido de desculpas. Mas este episódio é assinalável ainda por outras razões. O efeito bola de neve que estes fenómenos causam precipitou o PSD (e, por arrasto, o CDS, embora menos exuberante) a cometer um erro político profundo ao cavalgar um caso sem fundamento e ao instrumentalizar mortes dramáticas de forma pura e simplesmente abjeta. O facto provocou a indignação de figuras da própria Direita, que vieram, também elas, exigir um pedido de desculpas. De entre todos, Hugo Soares, o novo líder parlamentar do PSD ansioso por mostrar serviço, acabou por ser a cara desta ignomínia. Que a sua ascensão política se tem alimentado do espalhafato em torno da superficialidade e da exploração de preconceitos, já sabíamos. Só que o PSD anunciou a sua eleição como líder parlamentar porque ele seria “o melhor” que têm. Custa a crer. Mas a ser verdade, imagine-se os outros…» José Soeiro in A tragédia de Pedrógão e o jornalismo de arrastãoExpresso Diário 28jul2017.

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