Imagem: Frédéric Vayssouze-Faure
«Numa época em que se multiplicam cada vez mais as "certezas absolutas" sobre tudo e sobre nada, em que os assuntos que dominam a atualidade mediática raramente conseguem ultrapassar a fronteira do clickbait fugaz e instantâneo, e em que começam a surgir, perigosamente, discursos de ódio e de intolerância, não nos fazia mal, de facto, podermos todos parar um bocadinho para pensar. Era importante também que, com espírito aberto, mergulhássemos todos no país real. Sim, no Portugal que existe, de facto, e não naquele Portugal que entra todos os dias nos nosso cérebros, de forma quase automática, através das redes sociais cada vez mais monocórdicas, e dos debates acalorados sempre sobre os mesmos temas e em que todos só querem, à vez, falar mais alto, e defender aquilo que já sabíamos de antemão que iam defender, sem nada de novo para acrescentar. No fundo, o que devíamos mesmo era aproveitar este verão e começar a olhar para nós, para o País, para as nossas fúrias e tristezas, angústias e polémicas, com os olhos dos estrangeiros que cá vêm passar férias. Aqueles que chegam com o olhar distanciado, a mente menos inquinada pelos nossos pequenos e grandes dramas, sem interesses próprios nem opiniões formadas sobre a nossa realidade. Se Portugal entrasse todo de férias, iríamos, se calhar, perceber melhor muito do ridículo em que temos vivido.»
Rui Tavares Guedes in Ir a banhos para a realidade – Público 27jul2017.
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