quinta-feira, 13 de julho de 2017

Avareza 12

Imagem captada aqui.

«No dia 8 de dezembro de cada ano o frade Franco Decaminada vai à igreja para renovar os votos feitos a Nossa Senhora. É a Lei da Congregação a que pertence, a dos Filhos da Imaculada Conceição: é necessário prometer castidade, obediência, pobreza. Desde sempre, Decaminada é um padre espiritual para os seus irmãos, um guia seguro que indica a via correta. Não só para o espírito, mas também na intrincada selva dos negócios: de facto, a Congregação é uma das mais ricas da capital e confiara-lhe a gestão dos seus bens mais preciosos. Ou seja, o Hospital San Carlo de Nancy de Roma e I'IDI, o Instituto Dermatológico da Imaculada, um dos mais importantes centros dermatológicos da Europa. 
“Castidade, obediência, pobreza", recita o regulamento dos confrades. Mas Decaminada nunca conseguiu sabê-lo de cor. Pelo menos a julgar pelas suas proezas e pela sua relação singular com o cofre do hospital. Tudo começa — como decorre dos documentos do inquérito que a procuradoria de Roma abriu em relação a ele — em 2006, quando, ao levantar 8900 euros, o frade decide começar a utilizar o IDI como um multibanco pessoal. No fundo, pensa, o hospital é da minha congregação e um “reembolso de despesas" tão modesto, mesmo sem faturas juntas ou justificativos, quem irá notar? De facto, nenhum dos seus subalternos e confrades parece ter algo a dizer. Assim, em 2007, o "reembolso das despesas" ascende a 11 mil euros, no ano seguinte a 33.600 euros. Em 2009 o montante começa a tornar-se importante: 84.550 euros. Para justificar o levantamento, Franco nunca apresenta um papel, um recibo, uma explicação: Decaminada é o patrão, faz o que quer. "Reembolso de despesas!", diz e a caixa abre-se como a porta mágica de Ali Babá. Passam as semanas e os levantamentos aumentam. Desmesuradamente: em 2010 o frade levanta 116 mil euros, em 2011 as "notas de despesas" ascendem a 155 mil euros. Por vezes, o sacerdote esquece-se mesmo de explicar que os levantamentos são um reembolso pessoal e começa a fazer levantamentos sem sequer dar uma explicação. Assim, sempre em 2011, mete no bolso um total de 987 mil euros e, em 2012, mais como denunciámos no final de 2011 — gastos para a compra de uma vivenda chamada "Ombreilino": dezoito quatros extraluxo na Toscana, em Magiiano, circundados por vinte e três mil metros quadrados de terreno e prados à inglesa.» 
Emiliano Fittipaldi, Avareza – Saída de Emergência 2016

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