sexta-feira, 2 de junho de 2017

Bico calado

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Terror no Reino Unido: o que é que a primeira-ministra sabia?

«O alegado bombista suicida, Salman Abedi, pertencia a um grupo extremista, Libyan Islamic Fighting Group, baseado em Manchester, apoiado e utilizad pelo MI5 durante mais de 20 anos. O LIFG é proibido na Grã-Bretanha por ser uma organização terrorista que procura criar um “estado islâmico radical” na Líbia e "faz parte do movimento extremista islâmico mais amplo, inspirado na Al Qaeda." A “prova do crime” é que quando Theresa May era Ministra do Interior, os jihadistas do LIFG foram autorizados a viajar sem restrições por toda a Europa e estimulados a envolverem-se em "batalha": primeiro para remover Mu'ammar Gadaffi na Líbia, e depois para se unirem a grupos filiados à al-Qaeda na Síria. O ano passado, o FBI terá colocado Abedi numa "lista de terroristas" e avisado o MI5 de que o seu grupo estava à procura de um "alvo político" na Grã-Bretanha. Por que não foi detido e a sua rede não foi impedida de planear e executar a carnificina de 22 de maio?

A carnificina de Manchester revela a aliança faustiana da política externa britânica com o islamismo radical. Este casamento imperial remonta à Segunda Guerra Mundial e aos primeiros dias da Irmandade Muçulmana no Egito. O objetivo da política britânica era estancar o pan-arabismo: os estados árabes a desenvolverem um secularismo moderno, afirmando a sua independência do ocidente imperial e controlar os seus recursos. A criação de um Israel voraz foi concebida para agilizar este plano. Uma vez esmagado o pan-arabismo, resta agora a divisão e a conquista. 
Em 2011, segundo o Middle East Eye, o LIFG em Manchester era conhecido como os "meninos de Manchester". Inimigos implacáveis de Um’ammar Gadaffi, eles eram considerados de alto risco e alguns estavam sob controlo do ministério do Interior, através de prisão domiciliária, quando as manifestações anti-Kadhafi eclodiram na Líbia. De repente, as ordens de controlo foram retiradas. "Eu fui autorizado a ir, sem perguntas", disse um membro do LIFG. O MI5 revolveu-lhes os passaportes e a polícia anti-terrorismo no aeroporto de Heathrow deixou-os embarcar.
O derrube de Gaddafi, que controlava as maiores reservas de petróleo de África, tinha sido planeado há muito tempo em Washington e Londres. Segundo a secreta francesa, o LIFG fez vária tentativas de assassinato contra Gadaffi na década de 1990, tudo pago pela secreta britânica. Em março de 2011, a França, o Reino Unido e os EUA aproveitaram a oportunidade de uma "intervenção humanitária" e atacaram a Líbia. A Nato juntou-se-lhes ao abrigo de uma resolução da ONU para "proteger civis".
Em setembro passado, um inquérito parlamentar concluiu que o então primeiro-ministro David Cameron tinha levado o país à guerra contra Gaddafi com base numa série de "suposições erradas" e que o ataque "provocara a ascensão do Estado Islâmico no Norte de África". A comissão de inquérito criticou Obama por este ter considerado «uma cagada» o papel de Cameron na Líbia. De facto, Obama foi um dos protagonistas nesta “cagada”, pressionado pela secretária de estado Hillary Clinton, e por uma comunicação social que acusava Gaddafi de estar a preparar um "genocídio" contra o seu próprio povo. A estória do massacre foi fabricada por milícias salafistas perante a sua derrota pelo exército líbio.
O Reino Unido, a França e os EUA acabaram destruindo a Líbia como um estado moderno. E mais do que provocar o nascimento do estado islâmico, - o Daesh criara raízes nas ruínas do Iraque após a invasão de Blair e de Bush em 2003 -, estes medievais possuíam agora todo o norte de África. O ataque despoletou ainda um êxodo massivo de refugiados para a Europa.
Cameron foi declarado “libertador” em Tripoli.
Para os americanos e britânicos, o verdadeiro crime de Gadaffi foi a sua independência iconoclasta e o seu plano de abandonar o petrodólar, um pilar do poder imperial americano. Ele planeara lançar uma moeda comum africana apoiado no ouro, criar um banco pan-africano e favorecer a união económica entre países pobres com recursos valiosos. Isto era intolerável para os EUA, que estavam preparados para “entrar” em África e subornar governos africanos com "parcerias" militares.
(…) 
Em 14 de outubro de 2011, Obama anunciou o envio de tropas especiais para o Uganda para ajudar a guerra civil lá. Nos meses seguintes, tropas de combate dos EUA foram enviadas para o Sudão do Sul, para a o Congo e para a República Centro-Africana. Com a Líbia garantida, decorria agora uma invasão americana do continente Africano.
Em Londres, organizou-se uma feira de armas patrocinada pelo Royal Bank of Scotland, um grande investidor em bombas de fragmentação, que foram muito utilizadas contra alvos civis na Líbia. “Oportunidades sem precedentes para empresas de defesa e de segurança do Reino Unido”, rejubilava a organização.
O mês passado, a primeira-ministra Theresa May esteve no Médio Oriente, vendendo mais de 3 biliões de libras de armas britânicas que têm sido usadas contra o Iêmen. (…)
A carnificina de Manchester de 22 de maio foi o produto da violência do estado em sítios distantes, muita dela patrocinada pelo Reino Unido. (…)»

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